
Os cuidados paliativos (CP) constituem um modelo de cuidado centrado no alívio do sofrimento e na melhoria da qualidade de vida ao longo do curso de uma doença grave e ameaçadora à vida. A American Society of Clinical Oncology (ASCO) recomenda que todos os pacientes com câncer avançado sejam encaminhados para um especialista em CP dentro de 8 semanas após o diagnóstico. Contudo, estudos demonstram que, dentre os pacientes recém-diagnosticados com neoplasia hematológica (NH) avançada, apenas 39% são encaminhados para a equipe de CP nesse prazo. Essa lacuna sugere a necessidade de um consenso no que diz respeito à operacionalização da equipe de CP. O objetivo do presente estudo é avaliar as barreiras de acesso aos cuidados paliativos por pacientes com malignidades hematológicas (MH). O estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, a partir da análise de produções científicas veiculadas nas bases de dados United States National Library of Medicine (PubMed) e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). Os descritores utilizados foram “palliative care”, “hematologic malignancies” e “health care”, com o operador booleano “and”. Quanto à elegibilidade das pesquisas, foram utilizados como critérios de inclusão: texto completo, recorte temporal de 10 anos (2014-2024), idiomas inglês e espanhol e estudos do tipo ensaio clínico e estudo observacional. Foram excluídos artigos duplicados e fora do contexto abordado, resultando em 35 artigos para análise. Os estudos demonstram que o intervalo entre a admissão hospitalar e o encaminhamento para CP foi maior para pacientes com MH do que para pacientes com câncer sólido, apesar do fardo da doença e do benefício potencial de medidas de cuidados de suporte serem semelhantes. Nota-se que esses doentes possuem menor probabilidade de receber CP especializados, têm maior probabilidade de morrer no hospital e são mais propensos a receber cuidados “agressivos” nos últimos dias de vida, como quimioterapia, hospitalizações prolongadas e internações em unidades de terapia intensiva (UTI). Este padrão pode ser explicado por diversos aspectos únicos da onco-hematologia, incluindo uma gama mais ampla de opções terapêuticas, maior incerteza prognóstica e diferentes atitudes em relação aos cuidados de fim de vida entre oncologistas hematológicos e de tumores sólidos (TS). Além disso, as NH, por serem menos comuns que os TS e terem prognósticos muito diferentes, não são incluídas na maioria dos ensaios oncológicos em CP e os dados sobre a integração de CP ambulatoriais para pacientes com MH são reduzidos. Ainda, notou-se que onco-hematologistas eram mais propensos a perceber os CP como cuidados de fim de vida e temiam que as discussões sobre sua implementação pudessem minar seu relacionamento e a confiança do paciente. Assim, hematologistas se mostraram mais propensos a relatar uma sensação de fracasso quando não eram capazes de alterar o curso da doença e menos confortáveis com aspectos do fim da doença, como discutir a morte e o morrer. Logo, tais dados demonstram que a associação dos CP ao tratamento padrão de pacientes com MH está relacionada à redução nos tratamentos intensivos no final da vida e, portanto, apoiam a necessidade de desenvolver diretrizes baseadas em evidências, auxílios à decisão e caminhos de cuidados para padronizar as práticas de CP para especialistas em hematologia.