
O câncer colorretal é a segunda causa de morte relacionada ao câncer no mundo. Aproximadamente metade dos pacientes apresenta metástase hepática ao diagnóstico ou no curso do tratamento. A ressecção cirúrgica com intenção curativa contempla apenas 20% dos casos. A maioria é considerada irressecável, sendo submetida a tratamento sistêmico. A radioembolização interna seletiva (SIRT) com microesferas de ítrio90 tem desempenhado importante papel na estratégia terapêutica das metástases hepáticas por câncer de cólon com aumento da sobrevida livre de progressão.
RelatoEste é o caso de um homem de 54 anos, submetido a cirurgia por obstrução intestinal em agosto de 2022, com diagnóstico de adenocarcinoma de cólon direito já com metástases hepáticas. Iniciou quimioterapia sistêmica (QT) e após progressão hepática, iniciou segunda linha de QT no início de 2023. O estudo de PET/CT evidenciava quatro lesões no lobo direito e uma lesão no segmento IVa, sem evidência de doença extra-hepática e pequena área de dilatação biliar associado a diminuto foco de captação no segmento II. A RNM apresentava os mesmos nódulos e referia pequena dilatação biliar no segmento II, sem caracterização de fator obstrutivo. Paciente foi submetido a radioembolização hepática com itrio90, com excelente concentração nas 5 lesões hepáticas secundárias. Foi administrado itrio90 seletivamente no segmento IVa (maior lesão, 0,4 Gbq correspondendo pelo Partition a 200Gy no tumor), segmento VI (0,4Gbq com 200Gy nas duas lesões), e de forma não seletiva no tronco que irrigava os segmentos V/VIII e VI/VII (1,0 Gbq). Optou-se por não abordar a mínima área de dilatação biliar no segmento II devido à ausência de lesão na RNM. Paciente evoluiu bem, PET/CT realizado 3 meses após o tratamento mostrou resposta excelente na lesão do segmento IVa, resposta completa nas outras 4 lesões, porém crescimento significativo das dimensões e captação da lesão associada a dilatação biliar no segmento II não tratado. Encaminhado para radioablação da lesão remanescente. A RNM 3 meses após, apresentava ausência de doença hepática ativa, significativa redução das dimensões do lobo hepático direito e hipertrofia do lobo caudado e lobo esquerdo. Teve férias da QT por 6 meses quando foi evidenciado nova progressão de doença hepática associado a obstrução biliar e doença secundária pulmonar, sendo submetido a procedimento de drenagem biliar e reiniciado tratamento sistêmico.
ConclusãoO sucesso do tratamento locorregional das metástases hepáticas no câncer de cólon está relacionado a um bom planejamento e entrega do itrio90 nas lesões. O caso descrito nos ensina que houve boa resposta ao itrio90 nas áreas tratadas, que focos pequenos de doença merecem atenção pois podem ser os vilões no futuro e que o PET/CT foi mais sensível na detecção precoce de lesão hepática pequena ávida a glicose. Nosso paciente superou a expectativa média de vida de 14 meses para pacientes metastáticos, ficando 15 meses sem progressão após SIRT e radioablação, com boa qualidade de vida e ganhando férias de quimioterapia. Apresentou recidiva apenas em áreas não tratadas. A armadilha pode estar nos pequenos focos de doença!