Introdução: Apesar do uso da imunoglobulina anti-D para prevenção da doença hemolítica do feto e recém-nascido (DHFRN), a presença de anti-D ainda é considerada a principal causa de DHFRN severa, embora mais de 50 diferentes antígenos eritrocitários já foram associados com a DHFRN. Anticorpos contra antígenos de outros sistemas de grupos sanguíneos e anticorpos contra antígenos de alta frequência já foram associados à DHFRN, porém em menor grau de severidade e frequência. No entanto, anticorpos contra antígenos de alta frequência do sistema Dombrock como anti-Hy e anti-Joa não tem sido implicados na DHFRN na maioria dos casos. Relato de caso: Paciente MRGR, 31 anos, sexo feminino, parturiente com histórico de um aborto e transfusão foi encaminhada ao Laboratório de referência de imunohematologia para identificação de anticorpos irregulares. A paciente foi tipada como O positivo, a pesquisa de anticorpos irregulares em gel Liss/Coombs (Bio-Rad e Grifols) demonstrou o mesmo padrão de reatividade (2+) em todas as hemácias dos painéis testados e através do painel NaCl/Enzima foi identificado a presença de anti-E. Os testes de antiglobulina direta (TAD) e autocontrole (AC) foram negativos e o fenótipo estendido demonstrou que a paciente era negativa para os antígenos c, E, K, Fya, Jkb, S. Foram realizados testes adicionais de alo adsorção no qual foi evidenciado a presença de anti-S, descartado anti-c,-Fya,-Jkb e confirmado a presença de anticorpo contra antígeno de alta frequência. Foi realizada titulação com hemácia R1R1 S- e o anticorpo a ser identificado apresentou titulo 4. A genotipagem eritrocitária foi realizada pela técnica de BloodChip (Kit ID Core XT, Progenika-Grifols) e análise molecular realizada no equipamento Luminex (xMAPR®Technology) demonstrou que a paciente apresentava o genótipo DO*1/DO*1;DO*4;DO*01.-05 tendo como fenótipo deduzido Do(a+b-);Hy+;Jo(a-). O soro da paciente foi testado com 2 hemácias raras Jo(a-) e não apresentou reatividade confirmando a especificidade do anticorpo de alta frequência anti-Joa. Foi realizado o teste de monocamada de monócitos (MMA) para determinar a importância clínica do anticorpo anti-Joa utilizando uma hemácia negativa para os antígenos E e S. Obtivemos o resultado de 3,2% de monócitos ativados o que determina ausência de importância clínica do anticorpo. O recém nascido foi tipado como A RhD-positivo apresentou TAD (4+) com eluato ácido reativo com todas as hemácias do painel onde foi demonstrado a presença de anti-E e anti-Joa, não sendo possível descartar a presença do anti-S. O RN evoluiu com icterícia neonatal atribuída a incompatibilidade ABO com necessidade de fototerapia no segundo e terceiro dia de vida, sem outras intercorrências. Conclusão: Apesar dos anticorpos anti-E e anti-Joa terem se ligado às hemácias do RN, levando a um TAD e eluato positivos, neste caso não houve evolução para DHFRN moderada ou grave.
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Vol. 42. Núm. S2.
Páginas 338 (novembro 2020)
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