
O número de pacientes elegíveis para transplante de células-tronco hematopoéticas tem aumentado devido aos avanços na seleção de doadores. A incompatibilidade ABO não é contraindicada, entretanto os pacientes recebem transfusão no período pós transplante, sendo necessário um protocolo de transfusão.
ObjetivoAnalisar o histórico imuno-hematológico e transfusional de paciente pós TMO com incompatibilidade ABO/RhD afim determinar a necessidade de revisão do Protocolo de Atendimento Transfusional a Pacientes Transplantados com Incompatibilidade ABO/RhD.
Relato de casoPaciente masculino, 51 anos, diagnóstico SMD, Grupo Sanguíneo O+, Pesquisa de Anticorpo Irregular negativo e Teste de Antiglobulina Direto positivo, candidato à transplante alogênico com incompatibilidade maior (DMO GS A RhD Negativo). Titulação de anti-A do paciente igual a 1024. Após a primeira plasmaférese título 512 e 128 pós a segunda. Apresentou PAI positivo (anti-K) antes da infusão do TMO. Em D+68 apresentou GS O+, anti-A 512 e em D+103 título de 64. Em D+166 foi observada discrepância entre as provas direta e reversa, título de anti-A igual a 1, PAI, AC e TAD negativos.
MetodologiaDeterminação de GS, PAI, TAD e IAI pré e pós transplante pela metodologia de gel centrifugação. Busca do histórico Imuno-hematológico e transfusional do paciente em sistema informatizado do Serviço de Hemoterapia.
ResultadoHistórico de Estudo Imuno-hematológico: GS O+ do dia D0 até o dia D+103. Título de anti-A igual a 512 em D+68 e título 64 em D+103. Discrepância ABO e Rh em D+166. Histórico Transfusional: Transfundidos 04 Concentrados de hemácias e 25 Plasmas frescos antes do TMO. Do dia D+1 até o dia D+166 foram transfundidos 35 CH, 39 Concentrados de plaquetas por aférese e 27 Pool de concentrados de plaquetas. Todos os componentes transfundidos na fase pré transplante respeitaram o GS do receptor (O+). Dos componentes transfundidos na fase pós, 89% de CH, 51% de CPAF e 82% de PCP também eram GS ABO pré TMO.
DiscussãoA incompatibilidade ABO e/ou RhD pode causar hemólise das células vermelhas do DMO ao serem infundidas, pode ocorrer falha ou atraso no enxerto de eritrócitos, hemólise de células vermelhas do paciente a partir de infusão de plasma do doador, hemólise de hemácias do paciente devido aos linfócitos passageiros derivados de aglutininas, hemólise devido à formação de anticorpo. O manual técnico da AABB descreve as fases pré e pós transplante para auxiliar o suporte transfusional de pacientes com transplante ABO incompatível. Na Fase I o paciente é preparado para o transplante, a Fase II é o início da terapia mieloablativa até o paciente apresentar TAD negativo, isoaglutininas anti-doador indetectáveis na prova reversa da tipagem ABO, e o GS do paciente estar consistente com o GS do doador. A Fase III consiste na tipagem direta e reversa igual ao GS doador. As fases indicadas constam no Protocolo de Atendimento Transfusional a Pacientes Transplantados com Incompatibilidade ABO/RhD do Serviço de Hemoterapia do INCA.
ConclusãoOs componentes eritrocitários e plasmáticos foram em sua maioria adequados à tipagem realizada no momento da solicitação transfusional, evidenciando a necessidade de avaliação da fase atual do transplante. O estudo demonstra a necessidade de reformulação do Protocolo de Atendimento Transfusional a Pacientes Transplantados com Incompatibilidade ABO/RhD do Serviço de Hemoterapia do INCA com informações mais criteriosas das fases do transplante e constante avaliação da incompatibilidade ABO do dia D0 até a determinação completa do GS ABO/Rh, a fim de que sejam oferecidos hemocomponentes compatíveis com a fase pós transplante.