
Evidenciar a influência do valor da hemoglobina na solicitação e na quantidade de Concentrados de Hemácias (CH) durante os meses de janeiro a abril de 2023 em um serviço de hemoterapia da cidade de São Paulo/SP. Analisamos a conformidade dessas solicitações baseado no protocolo da American Society of Hematology (ASH) em 2013.
Materiais e métodosEstudo observacional e retrospectivo onde revisamos os registros das requisições de transfusão de CH nos setores de Hematologia, Oncologia e UTI no período de janeiro a abril de 2023, de um hospital terciário com 735 leitos da zona sul de São Paulo. Pacientes hemodinamicamente instáveis foram excluídos. Levantamos 514 solicitações e analisamos no programa Excel os valores de Hemoglobina (Hb) e quantidade de bolsas de CH solicitadas. Reservas cirúrgicas foram excluídas da avaliação.
ResultadosEm 280 (54%) de 514 requisições, o valor de Hb ≤7,0 g/dL (de 4,8 a 7,0). Em 168 (33%) do total de requisições, o valor de Hb estava entre 7,1 e 8,0 g/dL (Hb 7,1 a 8,0). Por fim, 66 (13%) requisições foram solicitadas com o valor de e Hb >8,0 g/dL. Em relação à quantidade de bolsas (em unidades) CH, observamos: (1) 1U (unidade) de CH em 357 requisições (69%) sendo 180 (50%) com Hb ≤7,0 g/dL, 126 (36%) com Hb entre 7,1‒8,0 g/dL e 51 (14%) com Hb >8,0 g/dL; (2) 2U de CH em 147 requisições (29%) sendo 96 (65%) com Hb ≤7,0 g/dL, 41 (28%) com Hb entre 7,1‒8,0 g/dL e 10 (7%) com Hb >8,0 g/dL; (3) 3 ou 4U de CH sendo 5 (50%) com Hb ≤8,0 g/dL e 5 (50%) com Hb >8, /dL.
DiscussãoA transfusão de sangue tem sido uma terapia adjuvante com potencial de salvar vidas. A relação direta entre o aumento do valor da hemoglobina pela transfusão de sangue e o aumento da oferta de oxigênio nem sempre existe, mas o Hb é o principal parâmetro laboratorial usado na tomada de decisão transfusional. As evidências atuais sugerem que a estratégia transfusional restritiva é plausível e deve nortear a prática clínica majoritariamente. As complicações das transfusões podem ser reduzidas apenas com a prescrição de uma unidade por vez com reavaliação do paciente, segundo os princípios básicos do Patient Blood Management. O protocolo ASH-2013 segue essas evidências. Baseado nele, consideramos que das solicitações com Hb ≤7 g/dL apenas àquelas com pedido de 1U de CH foram classificadas como adequadas; as indicações com Hb >8,0 dL e/ou com pedido com ≥2U de CH foram classificadas adequados; as solicitações com valores de Hb entre 7,1 e 8,0 g/dL não puderam ser classificadas já que para isso haveria a necessidade da descrição do contexto clínico dos pacientes. Logo, evidenciamos que 35% das solicitações estavam em conformidade (180 solicitações) e 3% (15 solicitações) em não-conformidade com o protocolo ASH-2013.
ConclusãoApesar da decisão médica acerca das requisições de hemocomponentes ser pautada nos achados clínicos do paciente, o valor da hemoglobina exerce grande influência no momento terapêutico e na quantidade de concentrados de hemácias solicitados. A falta de conformidade da solicitação de CH perante o protocolo ASH-2013 pode acarretar exposição transfusional desnecessária e desperdício de hemocomponentes por indicações inconsistentes.