HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA infecção causada pelo vírus SARS-CoV-2, pode levar a quadros respiratórios graves. A identificação de fatores de risco precoces, como certos parâmetros laboratoriais, é útil para o prognóstico da doença. Embora a literatura já tenha abordado o tema, faltam evidências científicas sobre as alterações características em pacientes com COVID-19 e seu impacto no desfecho clínico. A inflamação sistêmica é uma manifestação primária da COVID-19 e afeta a eritropoiese, podendo causar anemia. Da mesma forma, uma resposta inflamatória exacerbada pode levar a um aumento de leucócitos. Alterações na contagem de plaquetas e trombocitopenia são frequentes em pacientes com COVID-19 e estão associadas à gravidade da doença.
ObjetivosAvaliar exames hematológicos e bioquímicos de pacientes internados com COVID-19 e correlacioná-los com os desfechos de alta ou óbito.
Material e métodosTrata-se de um estudo de coorte retrospectivo que analisou dados de 98 pacientes adultos internados em uma UTI com diagnóstico de COVID-19 confirmado por RT-PCR e/ou teste de antígeno. Os dados foram coletados em dois momentos: na admissão e no momento do desfecho (alta ou óbito). A análise hematológica incluiu contagens de eritrócitos, hemoglobina, hematócrito, leucócitos, neutrófilos, linfócitos, monócitos, plaquetas, e relações como RNL (relação neutrófilo-linfócito) e RPL (relação plaqueta-linfócito), além de diversos exames bioquímicos. A análise estatística foi realizada utilizando o método de Regressão Logística Binária para identificar variáveis preditoras do desfecho.
ResultadosA taxa de mortalidade foi de 30,61%. Os valores de eritrócitos, hemoglobina, hematócrito, linfócitos, monócitos e plaquetas foram estatisticamente maiores para pacientes que receberam alta. Por outro lado, leucócitos, neutrófilos e RNL, os valores foram significativamente maiores para os óbitos. O aumento do hematócrito foi considerado um fator protetivo, reduzindo em 1,2 a chance de óbito (OR=0,835). O valor de OR para monócitos (3,20 × 10−28) indica que quanto maior a quantidade de monócitos, maior é o efeito protetor, reduzindo o risco do paciente ir a óbito. A média das plaquetas foram significativamente reduzidas nos pacientes que evoluíram para óbito. O aumento da ureia eleva o risco de óbito em 1,033 vezes e o aumento de pCO2 eleva o risco de óbito em 1,105 vezes.
Discussão e conclusãoOs resultados corroboram estudos anteriores que associam alterações hematológicas a prognóstico desfavorável em pacientes com COVID-19. A diminuição da linhagem eritrocítica (hemoglobina e hematócrito) reflete a anemia, que pode ser causada por danos imunológicos e supressão da medula óssea. O aumento de leucócitos, às custas de neutrofilia, e a linfopenia, são indicativos de uma resposta inflamatória grave, que pode levar a complicações sérias como sepse e síndrome do desconforto respiratório agudo. A trombocitopenia observada em pacientes que foram a óbito também é um achado consistente com a literatura e pode indicar uma descompensação fisiológica severa. O modelo de regressão logística, que incluiu ureia, pCO2, hematócrito e monócitos (relativos), foi considerado um modelo razoável, consegue identificar muito bem os pacientes que possam ter alta, assim como os que possam ir a óbito. O modelo apresentou um ajuste tão preciso que, ao utilizar as quatro variáveis-chaves (ureia, monócitos, pCO2 e hematócrito) é possível obter resultados confiáveis para auxiliar a equipe multiprofissional, contribuindo para uma melhor qualidade de atendimento e cuidado aos pacientes.




