HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosHistoricamente, leucemia mieloide aguda (LMA) é tratada com quimioterapia (QT) intensiva composta por combinações de citarabina e antracíclicos. Em 2015, foi proposto um protocolo denominado ICAML visando padronização do tratamento para pacientes com LMA de risco favorável ou intermediário. A terapia é baseada em dois ciclos de indução com citarabina e daunorrubicina seguido de consolidação (com citarabina em altas doses ou transplante de células tronco hematopoiéticas - TCTH). A despeito dos avanços para diagnóstico precoce e melhor suporte durante tratamento, LMA continua apresentando alta mortalidade nos primeiros 30 dias, sobretudo relacionada a infecção.
ObjetivosAvaliação de eficácia e segurança de dois ciclos de indução em pacientes com LMA tratados no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) conforme protocolo ICAML.
Material e métodosEstudo observacional, retrospectivo e descritivo de pacientes diagnosticados entre janeiro de 2020 e junho de 2024. Os pacientes foram estratificados em risco baixo, intermediário ou adverso de acordo com ELN 2017. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da instituição.
ResultadosAvaliados 62 pacientes, sendo 54,8% do sexo feminino. Mediana de idade 47,5 anos. 40,3% (25) de risco favorável, 33,9% (21) de intermediário e 25,8% (16) adverso. Após o primeiro ciclo de QT (C1), resposta completa (RC) em 50% dos pacientes (31), ausência de resposta em 19,4% (12) e óbito em 25,8% dos pacientes (19). Maior parcela de RC em pacientes de risco favorável (76%), ausência de resposta sobretudo em pacientes de risco adverso (46,7%). 46 pacientes permaneceram em seguimento após C1, destes apenas 27 foram submetidos ao segundo ciclo (C2), sendo que 25 apresentaram RC e 2 evoluíram a óbito. Dos 12 pacientes que não apresentaram resposta pós C1, 7 eram de risco adverso e 5 de risco intermediário. Dentre estes pacientes, apenas 1 foi submetido a C2 e apresentou resposta. Os demais foram submetidos a terapia de resgate. A taxa de infecção foi de 93,5% após C1, sendo que na maioria dos casos (51,7%) o agente infeccioso não foi identificado. Infecção também foi prevalente após C2 (96,3% dos casos) e bacilos gram negativos (BGN) os agentes implicados em 30,8% dos casos. Dos BGN isolados, 26,7% apresentavam resistência a carbapenêmicos. Tempo para recuperação neutrofílica de 21 dias após C1 e 19 dias após C2, enquanto tempo para recuperação plaquetária de 21,5 dias após C1 e 23,5 dias após C2. Dos 21 pacientes de risco intermediário, 5 realizaram TCTH. Destes, 3 encontram-se em seguimento, 1 apresentou a óbito não relacionado à doença e 1 óbito após recaída. Dos 16 pacientes de risco adverso, 3 foram submetidos a TCTH. Os 3 pacientes evoluíram a óbito, sendo 2 óbitos não relacionados à doença e 1 óbito após recaída. Média de tempo do diagnóstico para encaminhamento ao TCTH de 188 a 213 meses.
DiscussãoDados limitados para avaliação de eficácia - 30% não foram submetidos a dois ciclos de indução, sobretudo por ausência de resposta ao C1. Alta taxa de infecção após os 2 ciclos de QT. A despeito de população do estudo ser mais jovem e sem disfunções orgânicas prévias, mortalidade indutória elevada em todas as estratificações de risco de LMA.
ConclusãoOs achados do estudo confirmam dados países em desenvolvimento. Os dados podem auxiliar medidas públicas, estruturação de serviços de saúde, bem como tomada de decisão da melhor terapia de acordo com características do paciente e da doença.




