
Analisar quantitativamente os dados dos eritrométricos em hemogramas dos pacientes com diagnóstico de infecção por H. pylori, com o escopo de qualificar o tipo de anemia e suas características fisiopatológicas.
MétodosTrata-se de um estudo retrospectivo e transversal, no qual foram analisados prontuários eletrônicos de pacientes do HC-FMB-UNESP, com inclusão de pacientes submetidos ao exame de endoscopia digestiva alta (EDA), no ano de 2018, com diagnóstico confirmado de infecção por H. pylori, cujos dados eritrométricos de sangue periférico (hemograma) foram compilados e analisados por estatística descritiva.
Resultados558 pacientes tiveram diagnóstico confirmado de infecção por H. pylori foram incluídos na análise. As médias (e desvios-padrão) dos índices foram: G.V. = 4.140.000/mm3 (0,098)_Hb = 11,962 g/dL (2,538)_Ht = 36,503% (7,337)_VCM = 89,072 fl (8,897)_HCM = 29,152pg (3,416)_CHCM = 32,569 g/dL (1,718)_RDW = 16,500% (3,008)_plaquetas = 247.903/mm3 (110.023). Em 260/558 pacientes (46,6%) observou-se anemia, com predominância de normocitose (66,1%, n = 260) e de normocromia (75,4%, n = 260); menores frequências de microcitose (21,5%, n = 260), macrocitose (12,3%, n = 260) e hipocromia (24,6%, n = 260). A anemia do tipo normocítica normocrômica foi a mais frequente (61,5%, n = 260). Adicionalmente, 342/558 pacientes (61,3%) apresentaram anisocitose e 58/558 pacientes (10,4%) apresentaram plaquetopenia concomitante.
DiscussãoO presente trabalho revela a provável associação entre infecção pelo Helicobacter pylori e alterações hematológicas subsequentes. Estudos anteriores (Kassahun et. al.; C. Hershko et al.) fortalecem a conclusão de nossos achados, em que a constatação de aumento do RDW (não só como indicativo de anisocitose, mas revelador de inequívoco stress eritropoético), além de associação da plaquetopenia, como características pertinentes ao quadro de infecção pelo H.pylori, acrescenta uma nova frente à discussão fisiopatológica. Assim, como inúmeros estudos apontam que a associação anemia e H. pylori se relaciona principalmente com a menor captação de ferro pelas microvilosidades intestinais, o que poderia gerar um quadro de ferrodeficiência (com ou sem anemia ferropriva), e que se caracterizaria por esperadas microcitose e hipocromia, observamos em apenas 52/260 pacientes; ou seja, 19,6% dos pacientes anêmicos estudados. Os frequentes achados de normocromia e normocitose apontam para provável atividade inflamatória associada ao H.pylori, em que a gastrite seria responsável pela ação da hepcidina que se imporia sobre a resposta ao stress eritropoético, inibindo a contraparte da ação da eritropoetina (EPO), levando à menor resposta da medula óssea (MO) no setor eritroide. Mais investigações deverão prosseguir para refinar o conhecimento dos mecanismos fisiopatológicos subjacentes a essas alterações, levando à compreensão plena e consequentes implicações clínicas e terapêuticas.
ConclusõesNossos resultados indicam a importância da avaliação hematológica de pacientes com sintomas dispépticos com anemia, seja nomocítica e normocrômica, com anisocitose, e que apontam para possível infecção pelo H. pylori.