
Avaliar a adesão ao tratamento de pessoas com doença falciforme acompanhadas em um hemocentro da região norte de Minas Gerais.
MétodosEstudo observacional, descritivo, conduzido a partir da avaliação de prontuários e aplicação de questionários a 70 portadores de doença falciforme, com posterior análise estatística descritiva. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. O questionário foi organizado em três seções. A primeira seção contém questões sociodemográficas, a segunda contém perguntas relacionadas à farmacoterapia e à submissão dos pacientes a atendimentos especializados e exames, e a terceira questiona acerca da adesão ao tratamento, a partir de adaptação de Morisky-Green e Brief Medication Questionnaire.
ResultadosDentre a amostra, 78,6% dos pacientes residiam entre 101 e 400 km de distância do hemocentro e 74,3% relataram necessitar de condução da prefeitura para acesso ao serviço de saúde. Foi frequente a prescrição de ácido fólico (92,9%) e todos os participantes com até 5 anos estavam em uso de penicilina. Entrevistados relataram uso de hidroxiureia (35,7%) e quelante de ferro (11,4%). 27,1% revelaram possuir alguma dificuldade no tratamento, sendo 78,4% relacionadas à obtenção dos medicamentos. A análise da adesão ao tratamento detectou escore alto ou médio em 97,1% dos entrevistados.
DiscussãoNo Brasil, numerosos pacientes têm acesso gratuito a uma lista de medicamentos essenciais via SUS, com ênfase para a terapia de enfermidades prevalentes e crônicas, como a doença falciforme. No entanto, Mendes LV, et al. (2014) revelaram baixa disponibilidade desses medicamentos nas unidades de saúde pública do País. Correlacionando a baixa disponibilidade desses produtos com a adesão ao tratamento, Tavares NUL, et al. (2016) concluíram que a maior prevalência de baixa adesão foi detectada em indivíduos que precisavam pagar parte de sua terapia, quando equiparados aos pacientes que possuem acesso gratuito. Este achado reforça que a deficiência no fornecimento dos medicamentos pelo SUS pode ser uma das causas de usuários não seguirem terapias dada a incapacidade de aquisição no setor privado. No tocante ao atendimento, os entrevistados mencionaram dificuldade para comparecerem às consultas ou coletarem medicamentos, frequentemente devido à distância entre a moradia e o serviço de saúde e à obtenção do transporte junto à Secretaria de Saúde. A situação apontada corrobora com Cordeiro MM (2017), que constatou que o número de atendimentos reduz à medida que se amplia essa distância. O protocolo clínico estabelecido pelo Ministério da Saúde (2018) regulamenta condutas a serem empregadas na terapia de portadores de doença falciforme, normatizando o diagnóstico precoce e orientações aos familiares, atendimento ambulatorial com padronização de retornos, avaliação por diversas especialidades, realização de exames complementares e uso de medicações. Ferraz ST (2012) considera que são ações simples que, quando bem aplicadas, colaboram para o bom manejo da doença.
ConclusãoA assistência profissional prestada se apresenta em conformidade com os protocolos de tratamento estabelecidos e os entrevistados possuem alta taxa de adesão ao tratamento. Todavia, os pacientes ainda enfrentam obstáculos para alcançarem o benefício das condutas preconizadas.