
A Doença Falciforme (DF) é uma doença hematológica hereditária de grande importância epidemiológica no Brasil e no mundo, com elevados índices de morbidade e letalidade. Acarreta alto grau de sofrimento ao longo da vida e acomete majoritariamente a população negra, que coincidentemente, constitui a população com menor poder aquisitivo neste país dispondo de acesso limitado a serviços de assistência à saúde (público ou privado). A DF apresenta uma série de manifestações clínicas que podem influenciar o planejamento do tratamento odontológico, além disso, também pode apresentar manifestações bucais como alterações ósseas, atraso na erupção dentária, episódios frequentes de dor, osteomielite, e grande susceptibilidade a infecções bacterianas. Os processos infecciosos são críticos nestes indivíduos necessitando muitas vezes de hospitalização.
ObjetivoRelatar o caso clínico de uma paciente com DF com abscesso dentário agudo, internada em um hospital de referência para pacientes onco-hematológicos no Rio de Janeiro.
MétodoRelato de caso descrevendo a anamnese, história médica pregressa, exame clínico, radiografia periapical e tomografia computadorizada.
Relato de casoPaciente, 43 anos, sexo feminino, negra, admitida no Serviço Pronto Atendimento do Instituto de Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti – HEMORIO com queixa de dor há 3 dias, associado ao edema local. Hipótese diagnóstica pelo médico plantonista foi abscesso dentário. Paciente foi hospitalizada para antibioticoterapia venosa (amoxicilina + clavulanato de potássio (IV) e controle da dor (dipirona sódica EV), seguido de avaliação pelo Serviço de Odontologia da referida unidade. Ao exame físico, foi observado aumento de volume na face esquerda, doloroso à palpação e certa limitação de abertura de boca. O exame intrabucal confirmou aumento de volume em fundo de vestíbulo na região do elemento 26 com destruição coronária, além da necessidade de múltiplas exodontias e tratamentos restauradores. Radiograficamente, lesão periapical no 26 e destruição coronária. 48 horas após a medicação, apresentou ponto de flutuação na região e aumento da abertura de boca, desta forma, a mesma foi submetida à intervenção cirúrgica no consultório de odontologia, sob anestesia local, para a incisão e divulsão da coleção purulenta. Previamente ao procedimento, a paciente permaneceu com a antibioticoterapia, adequação de dieta e a instrução rigorosa de saúde bucal (com a entrega de kit de higiene e folder educativo) foi instituída. Na drenagem do abscesso foi observado a saída de grande volume de secreção purulenta e no dia posterior, a franca regressão do edema além disso, a paciente relatou ausência da sintomatologia dolorosa. A mesma foi agendada para a realização do tratamento odontológico, incluindo a remoção da causa.
DiscussãoDe acordo com a literatura, os quadros infecciosos são as complicações mais frequentes em indivíduos com DF e pode acarretar em abscessos, celulites, até ao óbito, quando não intervindo corretamente.
ConclusãoO CD deve saber manejar corretamente os pacientes com DF e realizar o efetivo controle dos quadros infecciosos, a fim de evitar as complicações graves que podem levar o paciente ao óbito. Ademais, o CD inserido na equipe multidisciplinar, deve atuar na proteção, recuperação e reabilitação em saúde, com ações centradas no sujeito e praticar, concomitantemente, a educação em saúde.