
A Síndrome de Liberação de Citocinas (SLC) é uma complicação do transplante de células-tronco hematopoéticas e se caracteriza pela liberação de citocinas inflamatórias geradas por linfócitos ativados e células inatas.
ObjetivosAvaliar a incidência e os fatores predisponentes da SLC no transplante haploidêntico (TCTH-Haplo).
MetodologiaAnálise dos prontuários de pacientes submetidos ao TCTH-Haplo no Centro de Transplante de Medula Óssea (CEMO) do INCA de junho de 2013 a setembro de 2021. Avaliamos a doença de base, número de transplantes, status da doença, Doença Residual Mínima (DRM), tipo sanguíneo e sorologia para Citomegalovírus (CMV) do paciente e do doador, presença de anti-HLA, regime de condicionamento, profilaxia de Doença do Enxerto contra o Hospedeiro (DECH), dia da pega medular, fonte do transplante, dose de CD34+ e variáveis relacionadas a SLC como dia de início dos sintomas, resolução clínica, classificação da SLC e follow-up. A classificação foi calculada pelo escore NCI CTCAE em 5 graus, considerando a apresentação clínica e gravidade (quanto maior, mais grave). Estudo aprovado pela Comissão de Ética sob o nº5.127.690.
ResultadosAnalisados 56 pacientes, com exclusão de 9, submetidos a segundo transplante. A incidência foi de 31,9% (15 pacientes). Os homens foram mais afetados, na incidência (8,5%) e na gravidade (10,6%). A faixa etária mais acometida foi entre 19 e 40 anos, com graus 2 e 5 (6,3% cada). Não houve relação com divergência de gênero ou sorológica de CMV, status da doença de base, regime de condicionamento, profilaxia de DECH e celularidade. A disparidade do tipo sanguíneo (10,6%) e a presença de anti-HLA (6,3%) tiveram maior incidência de formas graves.
DiscussãoA doença de base e a presença de DECH não influenciaram na incidência ou gravidade. Mas, a ausência de DECH se relacionou a forma mais grave (10,6%). O início do quadro foi mais intenso nos primeiros 5 dias após a infusão das células-tronco, em todos os graus. Os 5 casos que apresentaram grau 5 faleceram logo após o transplante, já os de grau 2, em sua maioria, estão em remissão (8,5%). Quadros brandos parecem levar a maior sobrevida global e a divergência de tipo sanguíneo, à quadros mais graves. Trabalhos sugerem a associação entre a infusão de sangue periférico e SLC grau 5. Nossa amostra foi composta, em sua maioria (61,7%), por pacientes que receberam infusão de medula óssea, não sendo possível uma análise completa desse parâmetro. Outros grupos reportam a doença ativa como um fator de risco. Em nosso estudo, a DRM negativa não foi impedimento para gravidade. Na análise de outros fatores presentes na literatura, não existiu divergência de status sorológico para CMV, mas a presença de anti-HLA foi um fator de risco para SLC e sua gravidade. Pacientes com SLC evoluíram com atraso na pega medular e 100% dos pacientes no grau 5, não a atingiram. Estudos recentes sugerem que quadros leves levam a menor chance de recaída, sem aumento da incidência e intensidade da DECH e consequente aumento da sobrevida global. A justificativa estaria nas células T aloreativas que causam a SLC e são capazes de gerar um potente efeito enxerto versus tumor.
ConclusãoA SLC é uma complicação no TCTH-Haplo e muito observada nos pacientes que receberam infusão de sangue periférico. Assim, sua prevenção deve ser objeto de futuras investigações, visando um desfecho mais satisfatório.