HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA hemofilia é uma doença hemorrágica crônica que exige acompanhamento contínuo e integral. Nessa trajetória, o enfermeiro exerce um papel consolidado na coordenação do cuidado. A navegação de pacientes, abordagem estruturada inicialmente na oncologia, vem sendo incorporada também em doenças crônicas não oncológicas. O modelo de Harold Freeman, pioneiro na navegação, fundamenta-se em princípios como eliminação de barreiras, fortalecimento do vínculo paciente-navegador, coordenação do cuidado e acesso oportuno aos serviços de saúde. Contudo, sua aplicação na hemofilia ainda é incipiente.
ObjetivosAnalisar as contribuições do enfermeiro na hemofilia sob a perspectiva da navegação de pacientes, considerando suas competências e potencial para fortalecer o cuidado centrado na pessoa.
Material e métodosEstudo descritivo, exploratório e qualitativo, realizado com enfermeiros dos Centros de Tratamento de Hemofilia (CTHs) da hemorrede pública do Estado do Rio de Janeiro. Participaram oito enfermeiros ativos nos CTHs. As entrevistas semiestruturadas ocorreram entre outubro e dezembro de 2024. A análise seguiu a técnica de Bardin, tendo como referencial os princípios da navegação de pacientes de Harold Freeman.
ResultadosCinco categorias temáticas emergiram: papel do enfermeiro, barreiras ao cuidado, comunicação e vínculo, ausência de navegação estruturada e perspectivas para a navegação. Os enfermeiros reconhecem sua centralidade na coordenação da assistência nos CTHs. Identificaram barreiras no acesso e na continuidade do cuidado, como distância, dificuldades logísticas, baixa articulação em rede e ausência de protocolos. A comunicação eficaz e o estabelecimento de vínculos terapêuticos foram destacados como essenciais para o cuidado centrado na pessoa, evidenciando sensibilidade, escuta ativa e envolvimento familiar. Constatou-se o desconhecimento do conceito de enfermeiro navegador, indicando a ausência de um processo formal de navegação. Por fim, os participantes apontaram perspectivas promissoras para uma assistência baseada na navegação, reconhecendo seu potencial para fortalecer a articulação interprofissional e ampliar a atuação da enfermagem.
Discussão e conclusãoObserva-se que, apesar da ausência de um modelo formalizado de navegação nos serviços investigados, os enfermeiros desenvolvem práticas compatíveis com seus fundamentos, especialmente no que se refere a continuidade do cuidado, apoio emocional e construção de vínculos terapêuticos. A fragilidade dos fluxos assistenciais e a desarticulação entre os níveis de atenção reforçam a pertinência da navegação como estratégia organizacional. O enfermeiro revela-se apto a exercer essa função, desde que respaldado por diretrizes institucionais e processos de educação permanente. A navegação de pacientes configura-se uma estratégia viável na hemofilia, ao fortalecer a coordenação do cuidado e apontar caminhos para qualificação da assistência. Sua institucionalização pode orientar políticas públicas, ampliar o modelo para outras doenças raras e sistematizar práticas ainda isoladas. Futuras investigações devem explorar seus impactos no acesso, adesão, qualidade de vida e uso racional dos recursos, promovendo um cuidado integral, resolutivo e centrado na pessoa com hemofilia.




