Frequentemente, como relatado em literatura e visto na prática, há um excesso de pedidos de reserva de hemocomponentes em cirurgias eletivas, o que extrapola as necessidades reais, gerando desnecessariamente sobrecarga nos serviços de banco de sangue e consumo de insumos para o preparo das bolsas. Além disso, solicitações excessivas levam à indisponibilidade das unidades reservadas para outros pacientes. Dentro deste cenário, a política de Maximum Surgical Blood Order Schedule (MSBOS) deve ser incentivada com base na análise do histórico de uso de sangue para determinada cirurgia dentro de uma instituição e nas diretrizes da Sociedade Britânica de Hematologia (BSH) que utilizam um índice C:T para ajuste do número máximo de hemocomponentes necessários para cada procedimento.

Avaliar o índice C/T das cirurgias com mais reservas de hemocomponentes de um hospital em São Paulo e com base neste resultado propor ajuste no protocolo de reserva cirúrgica de hemocomponentes objetivando minimizar o desperdício de recursos.

: Análise retrospectiva das cirurgias com reservas cirúrgicas de hemocomponentes que se repetiam pelo menos 7 vezes dentro de um período de 7 meses (outubro de 2023 a abril de 2024) em um hospital de São Paulo. Foram selecionadas 6 tipos de cirurgia dentro destes critérios: troca valvar, revascularização do miocárdio, artrodese de coluna, laparotomia exploradora, pancreatoduodenectomia, colectomia parcial. Foi feita a análise para cada tipo de cirurgia através do cálculo do índice C/T (n°de hemocomponentes compatibilizados/ transfundidos) e quando o mesmo não se encontrava na razão entre 2-3 tínhamos um indicativo de necessidade de reajuste do protocolo, ou seja, readequação do número de hemocomponentes necessários para aquele tipo de procedimento.

Vários estudos confirmam a prática de solicitações excessivas de sangue nas instituições hospitalares e a importância da implementação da metodologia MSBOS. No nosso estudo, o n°total de cirurgias, a média de solicitações de reserva cirúrgica de concentrado de hemácias e o índice C/T para cada cirurgia foi de: troca valvar (7, 3, 3.6), revascularização do miocárdio (7, 4, 2.0), artrodese de coluna (12, 2, 22), laparotomia exploradora (24, 2, 3), pancreatoduodenectomia (14, 2, 7), colectomia parcial (7, 2, 2). Estes resultados indicam necessidade de readequação no protocolo de reserva cirúrgica para as cirurgias de troca valvar (diminuição de 3 para 2 unidades a serem reservadas), artrodese de coluna (diminuição de 2 unidades para realização apenas de tipagem sanguínea), pancreatoduodenectomia (diminuição de 2 para 1 unidade a ser reservada). Importante lembrar que situações específicas de risco aumentado de sangramento devem ser avaliadas pelo médico do paciente e podem levar a uma flexibilização no protocolo, pois garantir a segurança do paciente sempre será a prioridade.

Nosso estudo confirma a prática de pedidos excessivos de sangue e reforça a necessidade de se implementar a política de reserva máxima de sangue baseada no perfil de uso de cada instituição, minimizando assim o desperdício de recursos humanos e de insumos, além da melhoria no manejo do estoque de hemocomponentes, fortalecendo assim a cultura do uso racional do sangue dentro da unidade hospitalar.