
Quantificar a prevalência do antígeno Diego a (Símbolo Dia; ISBT DI1) que pertence ao Sistema de Grupo Sanguíneo Diego (ISBT 010) entre os doadores de sangue fenotipados para esse antígeno em nossa unidade e avaliar a prevalência de pacientes com anticorpo anti-Dia identificados nos painéis de identificação de anticorpos na Agência Transfusional do Hospital Santa Marcelina entre 2021 até maio 2022.
Material e métodosPor meio da base de dados dos doadores do Banco de Sangue feito o levantamento de dos doadores com registro de fenotipagem para o Antígeno Dia e no intervalo entre 2021 até 05/2022 a análise dos resultados dos painéis de identificação de anticorpos da Agência Transfusional para o anticorpo anti-Dia.
ResultadosEm 30.139 doadores de sangue com fenotipagem para o antígeno Dia, encontramos 1.075 doadores positivos, correspondendo a 3,6% de positividade para a presença do antígeno Dia. Entre 2021 até 05/2022 foram registrados 607 pacientes com pesquisas de anticorpos irregulares positivas (P.A.I) e foram realizados testes para identificação de anticorpos irregulares. Dentre essas 607 amostras, 11 pacientes apresentaram a formação de anticorpo para Anti-Dia, uma incidência de 1,8% entre nossos pacientes.
DiscussãoO sistema de grupo sanguíneo Diego (ISBT 010) consiste em 23 antígenos transportados em uma glicoproteína de membrana multipassagem chamada banda 3 (também conhecida como AE1; SLC4A1; CD233). Os domínios transmembranares da banda 3 funcionam como transportador de ânions eritrocitários, enquanto a longa região amino-terminal da proteína é crítica para manter a integridade da forma eritrocitária por meio de sua interação com o citoesqueleto. Dentre os 23 antígenos, o par antitético de antígenos Dia e Dibsão os mais conhecidos. O antígeno Dib é de alta prevalência em todas as populações. O antígeno Dia, que difere por um aminoácido na glicoproteína AE1 do Dib, é raro entre caucasianos (0,01%), mas tem maior frequência entre índios americanos (36%) e asiáticos (10%). O Dia foi descrito em 1955, em um caso proveniente da Venezuela: uma mulher de origem indígena, com sobrenome Diego, cujo recém-nascido apresentou doença hemolítica perinatal (DHPN), e as hemácias paternas reagiam fortemente com o soro materno contendo o anti-Dia. Indivíduos Dia negativos podem sensibilizar-se quando expostos por gestação ou transfusão ao antígeno Dia presente nas hemácias, desenvolvendo um aloanticorpo anti-Dia e raros casos de ocorrência natural do anticorpo foram relatados. O anticorpo anti-Dia é da classe IgG (IgG1 ou IgG3), capaz de atravessar barreira placentária e causar DHPN grave; menos frequentemente podem causar reações transfusionais hemolíticas tardias de moderada a grave intensidade.
ConclusãoNos países com predomínio de população caucasiana, os painéis de identificação de anticorpos não trazem células Dia positiva (+), mas nos países asiáticos e/ou com predomínio de miscigenação indígena, os painéis trazem sempre, pelo menos, uma célula Dia+ para auxiliar na identificação do anti-Dia. O trabalho mostra que em nosso serviço temos 3,6% de doadores Dia+ positivos, taxa compatível com a frequência do antígeno Dia observada em estudos realizados em diversos estados brasileiros (3%–40%), portanto, ao transfundirmos esses concentrados de hemácias nos pacientes que são Dia negativo pode ocorrer aloimunização. O sistema Diego possui baixa imunogenicidade e a fenotipagem rotineira de pacientes e doadores não é recomendada, mas devemos ter atenção na aquisição de painéis de identificação para presença de pelo menos uma célula Dia+ e realizar a fenotipagem de alguns doadores para termos um banco de dados suficiente para atender os pacientes aloimunizados com bolsas Dia negativas.