Avaliar a prevalência mundial de transtorno depressivo maior em portadores de anemia falciforme.

Realizou-se uma busca sistemática nas bases de dados eletrônicas PubMed®, LILACS e SciELO, para identificação dos estudos transversais, publicados em inglês ou português nos últimos 10 anos, que avaliaram a prevalência de transtorno depressivo maior em portadores de anemia falciforme. A seleção dos artigos foi realizada em duas etapas e por dois pesquisadores independentes seguindo a recomendação PRISMA (Preferred reporting items for systematic reviews and meta-analyses) . A primeira etapa consistiu na triagem dos títulos e resumos e na segunda etapa foi realizada a análise completa do artigo, ambas seguindo os critérios de inclusão e exclusão pré-definidos. Todos os estudos incluidos foram submetidos a uma avaliação de qualidade por meio da Joanna Briggs Institute's critical appraisal para estudos transversais.

Dos 42 artigos disponíveis, nove foram incluídos na revisão, os quais foram realizados entre os anos de 2011 e 2020 e somam um total de 1269 participantes de diferentes faixas etárias; sendo quatro estudos envolvendo crianças. A maior parte dos trabalhos foi realizada nos Estados Unidos (EUA), três foram realizados no Brasil e um na Nigéria. Foram utilizados sete instrumentos diferentes para identificação da depressão com diferentes pontos de corte, sendo The Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9)  o instrumento mais utilizado. A prevalência mundial de depressão variou de 11 a 40%, conforme diversas variáveis verificadas.

A presente revisão mostra uma alta prevalência mundial de depressão em pacientes com anemia falciforme, incluindo crianças e adolescentes, fato preocupante pois a depressão relaciona-se com a baixa adesão ao tratamento e ao isolamento social. Vários fatores que interferem na qualidade de vida podem estar relacionados a depressão nos pacientes portadores de anemia falciforme, como, por exemplo, desemprego, baixa escolaridade, pobreza, fatores culturais, estado civil e intensidade das crises dolorosas. Corroborando com esse fato, um dos estudos incluídos nesta revisão demonstrou que o estado de saúde do indivíduo e suas complicações tornaram-se um obstáculo para obtenção de empregos bem remunerados. Assim, um ciclo vicioso de pobreza, baixa qualidade de vida e depressão é mostrado.

A prevalência de depressão encontrada para os portadores de anemia falciforme é superior a descrita na população geral. Além disso, havia escassez de literatura sobre o assunto, principalmente onde há alta prevalência de depressão, como na Nigéria. Desse modo, é de grande importância mais estudos sobre o tema e o acompanhamento multidisciplinar para essas pessoas, com enfoque em saúde mental e nas variáveis que podem predispor a depressão nesses pacientes, como dor intensa, falta de suporte emocional, baixa escolaridade e, consequentemente, desemprego.