O câncer é o principal problema de saúde pública no mundo e já está entre as quatro principais causas de morte prematura (antes dos 70 anos de idade) na maioria dos países. Para o Brasil, a estimativa para cada ano do triênio 2020-2022 aponta que ocorrerão 625 mil casos novos de câncer. O câncer de pele não melanoma será o mais incidente (177 mil), seguido pelos cânceres de mama e próstata (66 mil cada), cólon e reto (41 mil), pulmão (30 mil) e estômago (21 mil). (INCA 2019). A anemia é um achado frequente em pacientes com câncer ocorrendo em mais de 40% dos casos, podendo ser relacionada à doença em si ou as complicações do tratamento (Dicato et al, 2010). As opções terapêuticas incluem transfusão e utilização de agentes estimulantes da eritropoiese (Dicato et al, 2010).

Avaliar a prevalência de anemia com necessidade transfusional em pacientes diagnosticados com câncer.

Estudo transversal, retrospectivo, incluindo os pacientes do Hospital do Câncer de Franca que tiveram o diagnóstico entre janeiro de 2015 a dezembro de 2019 e os pacientes que receberam transfusão sanguínea no período, no Núcleo de Hemoterapia de Franca. Para a coleta dos dados, foi utilizado o software Sis RHC, para análise do perfil epidemiológico e topográfico e para coleta de dados transfusionais, as requisições de transfusões. Foram excluídos do estudo os cânceres de pele.

Foram diagnosticados 1831 casos novos de câncer (366 casos por ano). O câncer de próstata foi o tipo mais incidente no sexo masculino com 325 casos diagnosticados correspondendo a 38,7% das neoplasias no homem e 17,8% no total de casos. Na mulher o câncer de mama foi o de maior incidência com 343 casos novos representando 38,7% das neoplasias no sexo feminino e 18,9% no total de casos. No homem o câncer de próstata é seguido pelo câncer de intestino com incidência de 16,3%. Na mulher o câncer de mama é seguido pelo câncer ginecológico com incidência de 17%, seguida pelo câncer de intestino com 14,2% dos casos. Foram analisados os dados transfusionais dos pacientes encaminhados no período para receberem transfusões de sangue. Foram atendidos o total de 447 pacientes, com quadro de anemia (Hb < 10g/dl), para receberem terapia transfusional. A prevalência da anemia com necessidade transfusional foi de 24,4%. Considerando os pacientes encaminhados para transfusão as topografias que tiveram maior necessidade tranfusional pertenciam ao grupo de neoplasias do sistema hematopoiético (20,1%), seguido de câncer do intestino (18,8%), ginecológico (11,9%) e esôfago/estomago (10,1%). Considerando o total de casos novos no período por topografia, a anemia com necessidade transfusional foi maior no câncer do sistema hematopoiético , sendo 131 casos novos com 90 pacientes em terapia tranfusional (69%), seguido pelo câncer de estomago, com 99 casos novos e 45 em terapia transfusional (45,4%), câncer ginecológico com 151 casos novos e 53 em terapia transfusional (35%) e câncer de intestino com 280 casos novos e 84 pacientes em terapia transfusional (30%).

A anemia é comum em pacientes com câncer e sua prevalencia varia amplamente, a maioria dos estudos constatou que entre 30% e 90% dos pacientes com câncer apresentavam anemia. (Spivak, 1994; Dicato et al, 2010). Estudos sugerem que anemia em pacientes com câncer está associada à redução da eficácia terapêutica, aumento da mortalidade, da necessidade transfusional, redução do desempenho e da qualidade de vida (Knight et al, 2014).

A prevalência da anemia é importante em pacientes com câncer e a terapia transfusional pode ter um impacto significativo na sobrevida e na qualidade de vida.