Caracterizar o perfil de solicitação de hemocomponentes de reservas cirúrgicas do Hospital Universitário de Sergipe (HU-UFS).

Trata-se de uma pesquisa retrospectiva, documental, do tipo transversal e descritiva com abordagem quantitativa. Realizada no período de setembro de 2019 a setembro de 2020 na Unidade transfusional do HU-UFS, para a coleta de dados foram utilizadas as Solicitações Nacionais de Hemocomponentes (SNH), o Formulário de Registro de Hemotransfusão e os mapas cirúrgicos. As variáveis foram analisadas foram: especialidade cirúrgica, tipo de cirurgia, porte cirúrgico (pequeno, médio e grande), sexo (masculino e feminino) e faixa etária (criança: 0 e 12 anos, adolescente: 13 a 18 anos, adulto: 19 a 59 anos e idoso: 60 anos ou mais).

Foram realizadas 690 cirurgias com recomendação de solicitação de reserva, contudo, apenas 344 foram precedidas por tal, totalizando 1.360 unidades de hemocomponentes solicitadas. 61,0% destas foram para pacientes na faixa etária de 19-59 anos, 36,8% acima de 60 anos, 1,3% entre 13-19 anos, média de idade dos pacientes transfundidos foi de 55 anos. 65,6% foram solicitações para pacientes do sexo feminino e 34,4% do sexo masculino. 7,6% das solicitações foram para cirurgias de pequeno porte, 48,0% médio e 44,4% grande porte. Dentre as especialidades, as cirurgias do aparelho digestivo foram os que mais utilizaram os hemocomponentes com 31,1% das unidades transfundidas, seguida pela cirurgia geral com 27,5% e pela cirurgia vascular com 14,1%. Houve associação significante (p<0,05) entre a especialidade cirúrgica, o sexo e o tipo de cirurgia com a necessidade de transfusão. Em relação ao tipo de cirurgia, a laparotomia exploradora foi o  procedimento  cirúrgico  que  teve  maior  necessidade  de  hemoterapia, correspondendo a 21,5% das transfusões cirúrgicas realizadas. Os demais tipos de cirurgias tiveram percentuais de transfusões inferiores a 10%. O tipo de cirurgia apresentou-se como variável de maior influência (50%) sobre a necessidade transfusão. Apesar de mais da metade das transfusões terem sido realizadas em adultos, não houve significância (p>0,05) na relação entre faixa etária e a necessidade de hemotransfusão.

Marcondes (2017) também identificou correlação estatística entre especialidade e do tipo de cirurgia em relação aos pacientes cirúrgicos transfundidos, apresentando a cirurgia cardíaca com maior índice transfusão (50%). Além disso, os Protocolos analisados associaram tal fato a complexidade dos procedimentos realizados por essas especialidades e consequente maior risco de perda sanguínea.

Foi evidenciado que há relação entre o sexo feminino e a necessidade de transfusão cirúrgica de hemocomponente, bem como entre a especialidade e o tipo de cirurgia realizada, sendo a especialidade do aparelho digestivo e a cirurgia geral as que mais apresentaram chances de realizar hemotransfusão e quanto ao tipo de cirurgia, a laparotomia exploradora evidenciou maior chance de transfundir. Com base no exposto, pode-se concluir que análise do perfil cirúrgico da solicitação/utilização de hemocomponentes de reserva cirúrgica consiste em um dos fatores necessários para que o Serviço de Hemoterapia identifique o perfil de consumo da Instituição em análise e assim elabore um processo de trabalho específico e adaptado a realidade de cada local, capaz de atender todas as demandas de maneira rápida, eficaz e segura.