Segundo a RDC 508 de 27/05/2021, a análise microbiológica para bactérias aeróbias, anaeróbias e fungos é obrigatória tanto para as células progenitoras hematopoiéticas (CPH) coletadas de sangue periférico mobilizado (HPC(A)), quanto de medula óssea (HPC(M)) para uso alogênico ou autólogo. Essa avaliação deve ser realizada, no mínimo, em amostras do produto pós-processamento e antes da criopreservação, antes ou após a adição de crioprotetores. O Centro de Processamento Celular (CPCel) do HCPA manipula HPC(A) e HPC(M) provenientes de coletas da própria instituição ou externas ao hospital. Objetivo: Verificar o perfil e a prevalência de testes microbiológicos positivos nas amostras de medula óssea e sangue periférico mobilizado recebidas no CPCel.

Análise retrospectiva dos resultados microbiológicos das CPH recebidas para processamento, criopreservação e armazenamento no CPCel no período compreendido entre junho/2017 à junho/2022. As células foram submetidas a procedimentos como deseritrocitação, redução de plasma, criopreservação ou apenas armazenamento temporário. Os frascos utilizados para análise microbiológica foram BACT/ALERT® PF Plus (bactérias aeróbias e fungos) e BACT/ALERT® FN Plus (bactérias anaeróbias). O controle microbiológico do material foi realizado após o processamento das células, pré-criopreservação, ou previamente à liberação da bolsa quando do transplante a fresco. A composição do inóculo continha buffy-coat, hemácias e plasma, independentemente do procedimento realizado no material. Resultados: Foram recebidas 671 unidades de CPH no período avaliado, sendo 141 (21%) HPC(M) e 530 (79%) HPC(A). Considerando o total de unidades recebidas, 54 (8,0%) apresentaram resultado microbiológico positivo, sendo 40 (6,0%) unidades de HPC(M) e 14 (2,0%) unidades de HPC(A). No grupo HPC(M), das 141 unidades, 40 (28,4%) mostraram resultado positivo. No grupo HPC(A), das 530 unidades, apenas 14 (2,6%) apresentaram positividade microbiológica. Em aerobiose, tanto para HPC(A) como para HPC(M), as bactérias mais prevalentes foram Staphylococcus epidermidis e Staphylococcus sp. coagulase negativo. Já em anaerobiose, HPC(A) e HPC(M) apresentaram um total de 19 testes prejudicados pelo crescimento de bactérias aeróbias, e a bactéria de maior prevalência em HPC(M) foi bacilo Gram positivo não corineforme.

O conhecimento dos resultados da análise microbiológica dos produtos a serem infundidos são de fundamental importância, uma vez que as infecções são uma das principais causas de morbimortalidade nos pacientes transplantados. A prevalência encontrada nesse estudo, considerando HPC(A), foi menor (2,6%) do que a encontrada em estudo prévio realizado na nossa instituição (4,2%); outros estudos referem uma prevalência de testes microbiológicos positivos em HPC(A) de 0,23% a 5,7%, sendo Staphylococcus sp. coagulase negativo a bactéria de maior prevalência, corroborando o resultado encontrado. Quando avaliada a contaminação de HPC(M), observa-se um índice maior de positividade (28,4%), o que pode ser decorrente das múltiplas punções realizadas na coleta de medula óssea. Conclusão: A avaliação dos resultados da contaminação microbiana nos materiais processados no CPCel é importante para monitorização do controle da qualidade dos processos e para possíveis condutas a serem adotadas pela equipe médica dos pacientes frente à alguma reação adversa ao transplante.