Journal Information
Vol. 44. Issue S2.
Pages S48-S49 (October 2022)
Share
Share
Download PDF
More article options
Vol. 44. Issue S2.
Pages S48-S49 (October 2022)
Open Access
MANEJO DA ANEMIA GRAVE NA RECUSA DE HEMOCOMPONENTES POR OPÇÃO RELIGIOSA: UM DESAFIO AO HEMATOLOGISTA
Visits
637
LR Soares, MLBF Dourado, P Vicari, MS Figueiredo
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, SP, Brasil
This item has received

Under a Creative Commons license
Article information
Special issue
This article is part of special issue:
Vol. 44. Issue S2
More info
Introdução

A hemotransfusão é a terapêutica mais rápida, segura e eficiente para a melhora clínica da anemia grave, de forma que a recusa da transfusão pelos pacientes adeptos da religião Testemunhas de Jeová pode ser um desafio terapêutico. O Conselho Federal de Medicina considera como “não permitido ao médico exercer sua autoridade de maneira a limitar o direito do paciente resolver sobre sua pessoa e seu bem-estar”.

Objetivo

Relatar um caso de manejo da anemia grave, com sucesso, sem transfusão em paciente Testemunha de Jeová.

Relato de caso

Mulher, 26 anos, portadora de Anemia Falciforme, em uso regular de Hidroxiureia 28 mg/kg/dia e Ácido Fólico 5 mg/dia, adepta da religião das Testemunhas de Jeová, é admitida por quadro de dor intensa em membros inferiores, superiores, tórax e quadril. Relatava astenia e intolerância aos esforços, tosse seca e febre há 2 dias. Apresentava-se em regular estado geral, mucosas descoradas 4+, escleróticas ictéricas 2+, fácies de dor e SpO2 96% (ar ambiente). Os exames evidenciaram hemoglobina 3 g/dL, (Ht 9,1% VCM 130fl, eritroblastos 33/100), Leucócitos 9075/mm3 (bastões 272/mm3, neutrófilos 7079/mm3), plaquetas 159.000/mm3, reticulócitos 53500/mm3, bilirrubina indireta 0,2 mg/dL e DHL 511 U/L. Tomografia de tórax com consolidação bilateral. Tendo em vista o quadro clínico e laboratorial apresentado, foram estabelecidos os diagnósticos de Síndrome Torácica Aguda e crise anêmica, iniciou-se tratamento clínico para o quadro pulmonar e a indicação transfusional foi recusada pela paciente, devido a sua opção religiosa. Diante da gravidade clínica estabelecida, foi convocada reunião entre paciente, familiares e comissão de ética do hospital a fim de alinhar condutas, tendo em vista possível deterioração clínica com risco de morte. A paciente manteve a decisão de não transfundir e seguindo o princípio da autonomia, otimizamos os tratamentos alternativos para a anemia apresentada, com prescrição de eritropoetina (EPO) 300 UI/kg/dia nas primeiras 10 doses, posteriormente 300 UI/kg em dias alternados, hidróxido de ferro 100 mg/dia, endovenoso, por 10 dias, vitamina B12 5000UI 3x/semana e ácido fólico 5 mg/dia. Durante a internação, foi necessário uso de O2 sob cateter 2 L/min e manejo álgico pela Clínica da Dor. Apesar da recuperação clínica lenta, com internação prolongada, houve melhora satisfatória do quadro infeccioso e anêmico, com recuperação dos níveis de hemoglobina independente de hemotransfusão. Recebeu alta hospitalar com Hb 8,4 g/dL, com orientação de uso de hidróxido de ferro endovenoso 100 mg em dias alternados, EPO 8000 UI 3x/semana, Vitamina B12 5000UI IM 3x/semana e ácido fólico 5 mg/dia.

Discussão

Este relato destaca os desafios terapêuticos encontrados no tratamento da anemia grave em paciente que não deseja receber transfusão. A avaliação das crenças religiosas que afetam o tratamento deve ser feita inicialmente e o paciente e/ou família devem receber informações e, assim, ter a capacidade de fazer uma escolha informada. A recusa de uma opção de tratamento cria um dilema ético para o profissional de saúde, além de ser uma experiência frustrante. O caso relatado mostra que a terapêutica mais conservadora com EPO, ferro e vitamina B12 pode ser uma alternativa possível e eficaz em alguns casos, sendo o início precoce desta terapêutica fundamental para alcançar a resposta ideal.

Full text is only aviable in PDF
Idiomas
Hematology, Transfusion and Cell Therapy
Article options
Tools