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Vol. 44. Issue S2.
Pages S575 (October 2022)
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HEMOFILIA A ADQUIRIDA E A PRECARIEDADE DA SAÚDE BUCAL: A DIFICULDADE DO MANEJO HEMATOLÓGICO E ODONTOLÓGICO
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PO Moura, WT Kolodziejwski, BS Ballardin, CC Torres-Pereira
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil
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Vol. 44. Issue S2
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A hemofilia A adquirida (HAa) é uma coagulopatia autoimune rara, associada a deficiência do fator de coagulação VIII, diagnosticada em idosos, que apresenta altas taxas de morbidade e mortalidade. Os principais sintomas são sangramentos recorrentes, espontâneos e prolongados em regiões subcutâneas e mucosas, além de hematomas musculares. O prolongamento isolado do Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPA) e o Tempo de Protrombina (TP) normal, acompanhados de sangramento anormal, sugerem aprofundar a investigação diagnóstica. Por ser um distúrbio autoimune, o paciente desenvolve inibidores contra o fator de coagulação VIII, tornando o tratamento ainda mais complexo, já que a reposição do fator de coagulação deficiente pode sofrer ataque dos autoanticorpos envolvidos. Medicamentos antifibrinolíticos e imunossupressores são opções terapêuticas complementares. Um homem de 71 anos, branco, com histórico profissional na agricultura e construção civil, foi encaminhado à equipe de Hematologia apresentando dor nas pernas, hemartrose no joelho e hematomas extensos nos membros superiores e inferiores, relatando início dos sintomas após segunda dose vacinal para Sars-Cov-2. Com histórico de hipertensão arterial, artrite reumatóide e hiperplasia prostática benigna, encontrava-se em uso de sinvastatina, enalapril, prednisona, diclofenaco sódico, carisoprodol e doxazosina. Os exames laboratoriais demonstraram hemograma, RNI, TP e plaquetograma dentro dos limites de normalidade. Já a dosagem de fator de coagulação VIII foi de 3% e o TTPA de 69,5 segundos, levando ao diagnóstico de HAa. Por queixa de dor dentária, o paciente foi encaminhado à Odontologia. Ao exame físico, observou-se edentulismo superior e uso de prótese total, pseudomembrana removível à raspagem no palato, compatível clinicamente com candidose pseudomembranosa, presença de quatro dentes inferiores com mobilidade, acúmulo de biofilme bacteriano e cáries. Além disso, apresentava pequena ulceração em lábio inferior, indolor, não endurecida à palpação, compatível clinicamente com queilite actínica. Para as manifestações estomatológicas, prescreveu-se dexpantenol labial, fator de proteção solar e nistatina suspensão oral (100.000UI) para bochecho durante 7 dias, ocasionando a melhora incompleta da lesão labial e resolução completa da infecção fúngica. Apesar da conduta indicada ter sido a extração de todos os dentes, o quadro hematológico instável não permitiu tais procedimentos, já que agentes antifibrinolíticos foram considerados insuficientes para controlar a hemorragia e o uso de alfaeptacogue ativado não foi liberado pelo Ministério da Saúde para realização das exodontias. Assim, optou-se pela prescrição de analgésicos e proservação do caso, enquanto as condições hematológicas aguardavam estabilização. Esse fato limitou a ação da equipe multiprofissional, uma vez que os focos infecciosos dentários podem ocasionar episódios de dor intensa e sangramentos espontâneos, agravando ainda mais a condição geral. O caso demonstra a complexidade do manejo hematológico de um paciente com HAa, levando a dificuldade do tratamento odontológico, não sendo possível atender imediatamente às necessidades do paciente mesmo em condições onde a intervenção odontológica não podia ser considerada eletiva.

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Hematology, Transfusion and Cell Therapy
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