Um sangue raro é definido como negativo para antígeno de alta prevalência, com frequência de 1:1000 ou menos ou negativo para vários antígenos comuns. Alguns fenótipos raros são restritos a determinadas áreas geográficas do mundo e indivíduos. Neste relato, reportamos a identificação do raro fenótipo ryry k-negativo em um paciente do sexo masculino de 74 anos do sul do Brasil.

A fenotipagem RhCE e K foi realizada pela técnica de aglutinação em coluna (OrthoClinical). Confirmação realizada na mesma técnica e em gel (Bio-Rad). Para a fenotipagem estendida utilizamos o ID-antigen profile I, II e II (Bio-Rad).

Paciente pardo (miscigenação caboclo), politransfundido devido à cirurgia cardíaca para revascularização com enxertia endógena, identificado sangue raro através dos exames pré-transfusionais de rotina. Foi convocado e retornou após 5 meses para confirmação do sangue raro. Possui hipertensão arterial controlada com esquema quádruplo. Apresenta, ainda, história pessoal de câncer de laringe, ressecado há 6 anos, e tabagismo. Durante estudo imuno-hematológico por fenotipagem conclui-se que paciente pertence ao grupo O, RhD-negativo, C+, E+, c-, e-; K+ k- Kp(a-b+); Fy(a+b+); Jk(a-b+); S- s+; M+N+; P1+, o que o configura como portador de fenótipo ryry e Cellano negativo.

A prevalência de antígenos e fenótipos de grupos sanguíneos varia significativamente no Brasil. Este é o primeiro relato no Brasil do fenótipo ryry k-negativo. Para garantir um suprimento sanguíneo raro adequado, é crucial estabelecer pesquisas e registros raros locais, regionais de doadores de sangue, interligados com um registro nacional. A probabilidade de existir outro paciente do grupo O, ryry e Cellano negativo é praticamente nula, já que a chance de ryry é 1/10.000.000; k- 1/500 e O ou menos, o que totaliza probabilidade de 1/10.000.000.000. Este relato ressalta a complexidade do suporte à transfusão em pacientes com fenótipos raros e a importância do investimento contínuo em fenotipagem e genotipagem de hemácias em diferentes regiões.