As ligas acadêmicas possuem papel decisivo na vida do estudante, pois, por meio delas, o indivíduo explora a sua autonomia, criticidade e comprometimento. Além disso, o aluno procura as ligas também para suprir a necessidade de experiência clínica e de qualificação profissional. É notório que muitas ligas enfrentam obstáculos em suprir as demandas dos participantes, seja em função da dificuldade de encontrar professores para ministrar aulas, da realização de pesquisas ou da disponibilidade de projetos de extensão. O objetivo desse trabalho é, portanto, discutir os principais obstáculos que as Ligas de Hematologia do Brasil enfrentam.

Foi realizada uma pesquisa quantitativa por meio da aplicação de questionários online direcionados a ligas acadêmicas de hematologia do Brasil, no ano de 2020. O questionário foi destinado a 44 ligas, sendo a taxa de resposta de 72,7%. Esta pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da instituição proponente sob o CAAE 24510719.2.0000.0029. Os dados foram analisados pela ferramenta Excel 2013, para análise descritiva e foram codificados, de forma a garantir o sigilo dos participantes.

Ao ser questionado às ligas sobre a publicação de trabalhos em congressos, 78,1% afirmaram que fazem esse tipo de publicação. Das 32 ligas analisadas, 75% possuem atividade de extensão, sendo 91,7% com contato direto com os pacientes. Além disso, 71,9% possuem dificuldades em promover um projeto de extensão, por conta de diferentes motivos. Dessas ligas analisadas, 93,8% tem professor orientador e 40,6% têm dificuldades em encontrar professores dispostos a ministrar aulas sobre o assunto.

Na extensão universitária, parte do tripé ensino-pesquisa-extensão, as Ligas de Hematologia conseguem desenvolver alguma atividade de extensão na grande maioria, no entanto encontram dificuldades na elaboração dos projetos, possivelmente por falta de professores orientadores para auxiliar nas atividades e a necessidade de recursos e estrutura para a realização desses. A falta do professor orientador hematologista pode também estar relacionada ao menor número de médicos especialista em hematologista no Brasil, que, apesar de terem aumentado nos últimos anos de acordo com a Demografia Médica de 2018, ainda são poucos em comparação à outras especialidades. Para as atividades de ensino e pesquisa o advento das atividades online, durante a Pandemia da COVID-19, pode ter sido fator positivo que possibilitou às Ligas a realização de aulas online com especialistas de outras cidades e estados, além de orientação de trabalhos à distância, mas, para confirmar tal relação, novos estudos seriam necessários.

As Ligas, apesar de enfrentarem obstáculos, mantém atividades nos pilares de pesquisa, ensino e extensão, principalmente com regularidade de aulas e publicações científicas, sendo, portanto, necessário mais estudos que possam analisar as causas específicas dos problemas.