O sistema hemostático é um balanço bioquímico que mantem o sangue líquido e fluido. Quando a resposta hemostática está desregulada podemos ter a formação de trombos. Trombos são massas sólidas formadas a partir do processo de coagulação compostas por plaquetas e fibrina. A associaçãoclínica entre neoplasias e trombos é conhecida há mais de um século, e os eventos tromboembólicos são mais frequentes em pacientes oncológicos. Esse trabalho visou avaliar a presença e frequência de eventos trombóticos em pacientes com Linfoma Hodgkin (LH) e Não-Hodgkin (LNH) do ambulatório de hematologia do Conjunto Hospitalar de Sorocaba e analisar estatisticamente as principais causas de trombose nesse grupo, com o objetivo de determinar se a frequência de eventos trombóticos acompanha o valor de 6% a 12% descrito na literatura.

A obtenção dos dados foi realizada através da avaliação dos prontuários de 77 pacientes após autorização obtida via Termo de Consentimento Livre Esclarecido. As informações foram obtidas por meio de um formulário e transferidas para um computador onde foram avaliadas estatisticamente.

Dos 77 pacientes, nove (11.68%) desenvolveram algum tipo de evento trombótico. Destes, sete (77.78%) tiveram o sistema venoso acometido e dois (22.22%) o sistema arterial. Dos 50 pacientes com LNH, sete (14.00%) e dos 27 pacientes com LH, dois (7.40%) desenvolveram eventos trombóticos. Dos nove pacientes que apresentaram eventos trombóticos, três (33.33%) estavam no estadiamento II, dois (22.22%) no estadiamento III e três (33.34%) no estadiamento IV. Destes nove pacientes, seis (66.67%) apresentaram sintomas B, seis (66.67%) foram tratados com quimioterapia R-CHOP e dois (22.22%) com ABVD. Foram realizadas as análises dos seguintes desfechos utilizando o teste de Qui-quadrado: Eventos trombóticos e Faixa etária, Eventos trombóticos e Linfomas, Eventos trombóticos e Estadiamento, Eventos trombóticos e Ocorrência de recidiva, Eventos trombóticos e Presença de sintomas B. Todos obtiveram p maior que 0.05.

Os resultados que relacionam os linfomas com os eventos trombóticos estão dentro do esperado uma vez que tais eventos, em pacientes com linfomas, variam de 6% a 12% dependendo, também, dos subtipos de linfomas avaliados. Existe uma maior frequência de eventos trombóticos venosos em comparação aos arteriais, corroborando com o que é encontrado na literatura atual. Grande parte dos eventos trombóticos possui associação direta com o tratamento, intensidade do tratamento, estadiamento da doença e idade. Em uma meta-análise incluindo 18.018 pacientes com linfoma de 29 independentes coortes, a taxa de eventos trombóticos foi de 6,4%, sendo significativamente maior no LNH (6,5%) em comparação com LH (4,7%). No entanto, a partir de diferentes estudos clínicos, pode-se observar que a incidência de eventos trombóticos nos linfomas não depende apenas do subtipo e local do tumor, mas, também, do estágio da doença.

A frequência de eventos trombóticos nos Linfomas de Hodgkin e Não-Hodgkin no Conjunto Hospitalar de Sorocaba foi de 11,68% e encontra-se dentro do valor estabelecido na literatura médica. Os eventos trombóticos ocorreram, em sua maioria, em pacientes com Linfoma Não-Hodgkin, estadiamento III e IV e com presença de sintoma B conforme indicado pela literatura, apesar do valor de p indicar ausência de relevância estatística.