A partir do presente estudo, objetiva-se compreender a relação existente entre o envelhecimento e a hematopoese, de modo que seja possível averiguar o avanço etário como um fator de alta influência para o desenvolvimento de fisiopatologias do sistema hematopoiético, por meio de uma análise retrospectiva de enfoque em aspectos fisiológicos e manifestações clínicas.

Trata-se de uma revisão de literatura realizada mediante análise de artigos publicados nos últimos dez anos, escritos na língua inglesa e portuguesa, obtidos por meio da base de dados PubMed e Scielo. Esses artigos foram selecionados utilizando os seguintes descritores: “envelhecimento”, “células-tronco hematopoéticas”e “medula óssea”.

O envelhecimento é um processo fisiológico que acarreta diversas alterações no organismo desde o nível celular. O efeito desse fenômeno do sistema hematopoético é caracterizado por uma perda progressiva na funcionalidade de células, o que gera seu aumento em número e capacidade de reprodução. O favorecimento da linhagem mieloide torna-se evidente com a idade, o que pode estar relacionado com a maior incidência de malignidade mieloides em idosos. Essa tendência, associada à diminuição da produção de células T, contribui para a diminuição do número de linfócitos, o que explicaria a queda na imunidade observada em pacientes da terceira idade. Mudanças na resposta à eritropoietina podem explicar as maiores taxas de anemia, já que a produção de eritrócitos não aparenta diminuir.

Com a idade, o aumento compensatório no número de células , contudo, não corresponde a uma melhoria na qualidade funcional. Pelo contrário, o envelhecimento das CTHs está associado a uma diminuição na capacidade de regeneração e a uma predisposição para a linhagem mieloide. Essa tendência pode levar à redução da linfopoiese (produção de células linfoides do sangue de tecido linfático), consequentemente afetando a imunidade. O comprometimento do sistema imunológico aumenta a suscetibilidade a infecções e ao desenvolvimento de neoplasias hematológicas, bem como de doenças autoimunes. Além disso, o envelhecimento das células hematopoiéticas também é influenciado pelo conjunto de mudanças genéticas e epigenéticas (mudanças na expressão gênica que são herdáveis mas que não alteram a sequência do DNA), assim como alterações sistêmicas.

O envelhecimento interfere significativamente no sistema hematopoiético, ocasionando uma perda de funcionalidade celular e um acréscimo compensatório no número de células. Esses fatores favorecem a linhagem mieloide, aumentando a incidência de malignidades mieloides e reduzindo a imunidade devido à menor produção de linfócitos. Além disso, a resposta alterada à eritropoietina contribui para as altas taxas de anemia em idosos. Compreender esses mecanismos é essencial para entender as repercussões clínicas e, posteriormente, desenvolver intervenções terapêuticas que melhorem a hematopoiese e a qualidade de vida dos idosos.