HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA hemoglobinúria paroxística noturna (HPN) é uma doença clonal adquirida da célula-tronco hematopoética causada por mutações somáticas no gene PIGA, localizado no cromossomo X. Essa alteração leva à deficiência de glicosilfosfatidilinositol (GPI), um glicolipídio responsável pela ancoragem de diversas proteínas reguladoras da superfície celular, como CD55 e CD59. A ausência parcial ou completa dessas proteínas torna as hemácias suscetíveis à lise mediada pelo complemento, resultando em hemólise intravascular crônica, frequentemente associada a citopenias e eventos trombóticos. A citometria de fluxo com marcador FLAER, associada a anticorpos monoclonais para proteínas GPI-dependentes, é considerada o método de referência para detecção de clones HPN, especialmente em protocolos de alta sensibilidade. Tubos secos (liofilizados) contendo esses reagentes podem oferecer vantagens de padronização, estabilidade e praticidade, favorecendo sua adoção na rotina diagnóstica.
ObjetivosValidar o desempenho de um tubo seco de cinco cores no diagnóstico de HPN, comparando-o com o painel líquido atualmente utilizado.
Material e métodosFoi avaliado o tubo customizado Duraclone® (Lucid, Beckman-Coulter) contendo FLAER–Alexa Fluor 488, CD157–PE, CD64–APC-A750, CD15–PB e CD45– Krome Orange. O desempenho foi comparado a um painel líquido de sete cores composto por FLAER, CD24, CD45, CD14, CD33, CD15 e CD157. Foram analisadas amostras de dez indivíduos (5 controles normais e 5 pacientes com HPN confirmada). As aquisições foram realizadas no citômetro FACLyric (BD Biosciences), com aquisição de 500.000 leucócitos por amostra para avaliação de alta sensibilidade.
ResultadosA análise estatística comparativa entre os dois métodos não revelou diferenças significativas em nenhuma das variáveis avaliadas (p ≥ 0,05), incluindo as populações totais de granulócitos, monócitos, eosinófilos, basófilos e linfócitos, bem como as frações correspondentes a clones HPN tipos II e III. As médias obtidas para cada parâmetro foram semelhantes entre o tubo líquido e o tubo seco, confirmando equivalência na detecção e quantificação de clones HPN e das populações leucocitárias associadas.
Discussão e conclusãoO uso de tubos secos apresenta diversas vantagens para a rotina diagnóstica. A padronização do ensaio, com quantidade e proporção fixas de anticorpos, reduz a variabilidade técnica e os erros de preparo. A maior estabilidade dos reagentes, muitas vezes com armazenamento em temperatura ambiente, diminui a dependência da cadeia de frio e amplia a vida útil dos testes. O preparo simplificado acelera o processamento, libera recursos humanos e reduz riscos de contaminação ou degradação. Além disso, a logística de transporte e armazenamento é otimizada, e há redução de custos indiretos relacionados a repetição de testes ou desperdício de reagentes. Esses fatores, associados ao desempenho equivalente demonstrado neste estudo, reforçam o potencial do tubo seco como alternativa viável e eficiente para detecção de clones HPN, inclusive em protocolos de alta sensibilidade. O tubo seco avaliado demonstrou equivalência analítica ao painel líquido tradicional na detecção de HPN em granulócitos e monócitos, incluindo clones de diferentes intensidades de deficiência. Sua adoção pode simplificar o fluxo de trabalho, reduzir variabilidade interlaboratorial e otimizar recursos em laboratórios de citometria de fluxo.




