HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO transplante de células-tronco hematopoéticas (TCTH) autólogo é amplamente utilizado no tratamento de neoplasias hematológicas, sendo a criopreservação o método padrão para armazenar células coletadas. No entanto, essa prática envolve custos elevados e riscos associados ao uso do DMSO. Em 2024, o Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (HEMORIO) realizou os primeiros TCTH a fresco no SUS, buscando avaliar a eficácia e a viabilidade dessa estratégia alternativa.
ObjetivosDescrever a eficácia e a viabilidade do transplante autólogo de células-tronco hematopoéticas (TCTH) a fresco (não criopreservado), em comparação ao modelo tradicional de criopreservação, nos primeiros procedimentos realizados no Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (Hemorio).
Material e métodosEstudo retrospectivo descritivo, realizado mediante análise de prontuários físicos e eletrônicos de seis pacientes com diagnóstico de mieloma múltiplo submetidos ao TCTH entre 2024 e 2025. Foram comparados dois grupos: três pacientes que receberam infusão de células-tronco a fresco (em até 48 horas após a coleta) e três pacientes que receberam células criopreservadas. As variáveis analisadas incluíram: tempo de internação, tempo para pega medular (neutrófilos ≥ 500/µL por dois dias consecutivos) e parâmetros hematológicos na alta hospitalar (hemoglobina, hematócrito, leucócitos totais e neutrófilos absolutos).
ResultadosO tempo médio de internação foi de 18,3 dias no grupo a fresco, em comparação a 29 dias no grupo criopreservado, evidenciando uma redução significativa de aproximadamente 11 dias na hospitalização. Quanto ao tempo para a pega medular, a média foi de 9,6 dias no grupo a fresco e 11 dias no grupo criopreservado, indicando uma tendência de recuperação hematológica mais rápida nos pacientes que receberam células não criopreservadas. Os parâmetros hematológicos na alta hospitalar apresentaram-se semelhantes entre os grupos. No grupo à fresco, a hemoglobina variou entre 8,6 e 9,2 g/dL; leucócitos entre 7,8 e 9,97 10³/µL e neutrófilos entre 2,36 e 7,52 10³/µL. No grupo criopreservado, a hemoglobina variou entre 8,0 e 10 g/dL; leucócitos entre 5,56 e 8,97 10³/µL e neutrófilos entre 3,71 e 6,85 10³/µL. Esses dados indicam que a recuperação hematológica foi equivalente em ambos os grupos, sem impacto negativo decorrente da ausência de criopreservação.
Discussão e conclusãoAlém dos aspectos clínicos, o TCTH à fresco apresenta vantagens operacionais e econômicas relevantes. A redução no tempo de internação diminui a exposição a infecções hospitalares e as complicações associadas, favorecendo o retorno precoce ao ambiente domiciliar e ambulatorial. Institucionalmente, há a otimização do uso de leitos e a redução de custos relacionados à internação prolongada, à aquisição de insumos como o dimetilsulfóxido (DMSO) e à necessidade de equipamentos e profissionais especializados em criopreservação. Os resultados preliminares sugerem que o TCTH autólogo à fresco é uma alternativa eficaz, segura e economicamente viável ao modelo tradicional de criopreservação. Apesar do número reduzido de pacientes analisados, a estratégia demonstrou benefícios clínicos e operacionais, sem comprometer a recuperação hematológica dos indivíduos. A ampliação da casuística e a padronização de protocolos são essenciais para consolidar essa prática como uma abordagem viável no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS).




