HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Leucemia Linfocítica Crônica (LLC) é uma neoplasia linfoproliferativa B CD5+ que acomete predominantemente indivíduos idosos, com evolução indolente e conduta inicial geralmente expectante. No entanto, a presença de alterações citogenéticas e moleculares de alto risco, como deleção do 17p e mutação de TP53, está associada à refratariedade terapêutica, incluindo a falha a terapias-alvo, e pior prognóstico. Nessas situações, especialmente em pacientes com doença recidivada ou refratária (R/R), o transplante de células-tronco hematopoéticas (TCTH) alogênico permanece como opção de resgate visando ganho de sobrevida global e livre de progressão.
Descrição do casoPaciente masculino, 67 anos, hipertenso e dislipidêmico controlado, diagnosticado em 2020, em serviço externo, com linfoma de zona marginal após apresentar linfonodomegalias generalizadas, anemia, linfocitose e plaquetopenia. Recebeu radioterapia, cinco ciclos de R-CVP e um ciclo de R-CHOP. Em 2022, apresentou recidiva com anemia (Hb 9,3 g/dL), linfocitose (298.440/mm3) e plaquetopenia (114.000/mm3). Imunofenotipagem de sangue periférico evidenciou 87% de linfócitos B maduros clonais, CD10− e positivos para CD5, CD19, CD11c, CD200, CD20, CD22, CD79b e IgG kappa, compatível com LLC. O cariótipo revelou deleção do 17p e o FISH, deleção de TP53 em 87% das células. Estratificado como CLL-IPI de alto risco, iniciou acalabrutinibe (iBTK) em julho/2023, evoluindo com progressão após cinco meses. Em janeiro/2024, iniciou venetoclax (iBCL-2) associado a rituximabe, apresentando neutropenia grau IV e pneumocistose grave, com necessidade de ventilação mecânica e melhora após tratamento com sulfametoxazol-trimetoprima. Após quatro ciclos, evoluiu novamente com refratariedade. Diante do quadro R/R e alto risco, foi submetido, em agosto/2024, a TCTH alogênico haploidêntico (doador irmão). No pós-transplante, desenvolveu doença do enxerto contra o hospedeiro (DECH) crônica moderada a grave de pele e mucosa oral, controlada com ruxolitinibe e ibrutinibe. Permaneceu em remissão por 11 meses. Em junho/2025, apresentou linfonodomegalias, anemia e plaquetopenia, sugerindo nova recaída, além de celulite em membro inferior direito e infecções recorrentes, mesmo sob profilaxias antimicrobianas e reposição de imunoglobulina. Evoluiu com choque séptico e óbito.
ConclusãoO caso ilustra a evolução de uma LLC com biologia molecular de alto risco (deleção 17p e mutação TP53), caracterizada por múltiplas refratariedades às principais terapias-alvo disponíveis (iBTK e iBCL-2), além de complicações infecciosas graves. Embora o TCTH alogênico ainda represente uma alternativa potencialmente curativa nesse cenário, seu benefício é limitado pela alta toxicidade do procedimento e pelo risco de DECH. O diagnóstico precoce de alterações genéticas desfavoráveis é essencial para o planejamento terapêutico e para a indicação oportuna do transplante. O avanço das terapias-alvo e imunoterapias pode, no futuro, oferecer melhores perspectivas para esse subgrupo de pacientes, porém, até o momento, o TCTH alogênico permanece como opção de resgate em casos de LLC R/R de alto risco biológico.




