HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA talassemia é descrita como uma doença sanguínea hereditária autossômica recessiva, condição que implica em uma incapacidade de produção de hemoglobinas normais, o que pode resultar em anemia severa. A sobrevivência dos acometidos com talassemias depende de transfusões sanguíneas, o que pode elevar o risco de sobrecarga de ferro e infecções parasitárias, como a toxoplasmose. Embora o risco de transmissão de toxoplasmose por transfusão seja baixo, a alta soroprevalência mundial e o fato que o parasito pode sobreviver até 50 dias em componentes sanguíneos preservados a 4° C, pode implicar condições de risco para infecções oportunistas como a toxoplasmose em pacientes imunocomprometidos como os portadores de talassemias.
ObjetivosRealizar uma revisão sobre a soroprevalência da toxoplasmose em portadores de talassemias, destacando os riscos de transmissão do parasito Toxoplasma gondii por meio de transfusões sanguíneas, bem como as implicações do uso do método de filtragem de leucócitos como medida de mitigação.
Material e métodosUma revisão de literatura foi realizada por meio da busca na base de dados PUBMED, seguindo os critérios de inclusão: trabalhos com acesso integral em português ou inglês, de 2010 a 2025, com os descritores: (“Toxoplasma gondii” OR “toxoplasmosis”) AND (“thalassemia” OR “beta-thalassemia” OR “alpha-thalassemia”). Artigos sem acesso aberto ou com dados incompletos foram excluídos. O programa Microsoft Excel foi utilizado para tabulação dos dados, considerando o N total de indivíduos, N de soropositivos, localização e métodos de diagnóstico, em cada estudo por país. Para a análise dos dados foi realizada uma comparação dos percentuais de soropositivos para toxoplasmose.
Discussão e conclusãoDos 21 trabalhos encontrados, 15 foram excluídos após análise seguindo os critérios de inclusão. Os 6 artigos selecionados relataram a soroprevalência de toxoplasmose em pacientes com talassemias em populações do Brasil (n:1), Egito (n:2) e Irã (n:3). Os dados disponíveis mostram que o teste sorológico ELISA foi utilizado para diagnóstico de anticorpos anti-T. gondii em todos os estudos. Em nenhum destes estudos o método de diagnóstico da talassemia foi especificado. Os grupos dos estudos eram compostos por indivíduos que eram portadores de talassemia e que realizavam transfusão sanguínea periodicamente. No Irã, o percentual de soropositividade varia entre os estudos, sendo de 51,9%, 16,67% e 9%. Já no Egito, ambos os estudos apresentaram porcentagens similares, 57% e 53,6%. E o único estudo realizado no Brasil, apresentou um percentual de 45,2%. Embora a toxoplasmose e as talassemias não tenham relação direta, o que implica buscar relatos sobre essas duas condições é o fato de pacientes portadores de talassemias passarem por inúmeras transfusões durante a vida, o que pode aumentar as chances de transmissão do parasito T. gondii, principalmente em centros transfusionais que não utilizam o método de filtragem de leucócitos, células nucleadas onde os parasitos ficam alojados, configurando um dos meios de transmissão via tecido sanguíneo. A variabilidade na soropositividade para toxoplasmose entre os estudos pode ser multifatorial, especialmente quanto ao processo de triagem dos hemocomponentes. A alta soroprevalência da toxoplasmose em pacientes portadores de talassemias revela a importância do processo de avaliação dos hemocomponentes com o uso sistemático da leucofiltração pré-transfusional, como medida mitigadora de transmissão de parasitos leucotrópicos como o T. gondii.




