HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA leucemia mieloide crônica (LMC) é uma neoplasia mieloproliferativa crônica caracterizada pela translocação t(9;22), que origina o gene de fusão BCR-ABL1, cuja proteína resultante estimula a proliferação descontrolada de células mieloides. O advento dos inibidores de tirosinoquinase (ITQs) transformou radicalmente o tratamento da LMC, proporcionando sobrevida comparável à da população geral.
ObjetivosEste estudo observacional, retrospectivo e descritivo teve como objetivo avaliar a eficácia e tolerabilidade do tratamento com ITQs genéricos em pacientes acompanhados em um centro público de referência brasileiro.
Material e métodosForam analisados 291 pacientes adultos com diagnóstico de LMC no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR) no período de 2000 a 2024. As variáveis clínicas, laboratoriais e terapêuticas foram coletadas por meio de revisão de prontuários físicos e registros eletrônicos, com análise estatística descritiva, testes de associação e regressão de Cox para avaliação de sobrevida.
ResultadosA mediana da idade ao diagnóstico foi 42 anos, e 55% dos pacientes eram do sexo masculino. A maioria foi diagnosticada em fase crônica (76%). A resposta molecular profunda foi observada em 60% dos pacientes, e 76% atingiram ao menos resposta molecular maior. A sobrevida estimada em 5, 10 e 20 anos foi de 94,7%, 91,6% e 86,5%, respectivamente. Os fatores associados à maior mortalidade foram diagnóstico em fase blástica (HR = 23,6; p < 0,001) e ausência de resposta molecular (HR = 11,9; p = 0,003). A maioria dos pacientes (63%) utilizou apenas um ITQ durante o tratamento, enquanto 71 pacientes (24,4%) utilizaram dois ITKs e 35 (12%) pacientes necessitaram de três ou mais ITQs. Registraram-se 1.440 eventos de toxicidade não hematológica, com predomínio de eventos grau 1-2, destacando toxicidades gastrointestinais e osteomusculares. Apenas 3% apresentaram toxicidades grau 4 ou superior. As toxicidades hematológicas incluíram anemia (35,8%), plaquetopenia (27,3%) e leucopenia (21,3%).
Discussão e conclusãoConclui-se que o tratamento da LMC com ITQs no sistema público brasileiro foi eficaz, com altas taxas de resposta e sobrevida prolongada, e semelhante ao encontrado na literatura a despeito do uso de genéricos e com 25 anos de seguimento. A maior parte dos eventos adversos foi leve. A casuística aqui reportada evidencia ainda a importância do SUS (Sistema Único de Saúde) na ampliação do acesso ao tratamento de qualidade nas doenças oncológicas.




