HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO linfoma de Hodgkin (LH) é uma neoplasia linfoproliferativa caracterizada por alta taxa de cura, especialmente em estágios iniciais, mas os casos avançados (Ann Arbor III e IV) apresentam maior risco de refratariedade e recidiva. O protocolo de tratamento ABVD (doxorrubicina, bleomicina, vinblastina e dacarbazina) é uma alternativa de tratamento amplamente utilizada nos casos de LH em estadiamento avançado, com taxas de resposta completa (RC) variando entre 60% e 80% na literatura.
ObjetivosEste estudo retrospectivo avalia características clínicas, resposta terapêutica e desfechos de pacientes com LH avançado tratados com ABVD em um centro de referência brasileiro do serviço público de saúde.
Material e métodosFoi realizado uma análise retrospectiva de dados coletados em prontuário eletrônico do nosso centro incluindo pacientes com diagnóstico de LH (2001- 2024), a partir de 14 anos, em estágios III e IV, tratados com ABVD. As variáveis analisadas incluíram dados demográficos, estadiamento, presença de massa bulky, invasão de medula óssea, níveis de DHL, contagem leucocitária e linfocitária, status sorológico para HIV, tratamento radioterápico adjuvante, resposta interina e final, recidiva e óbito.
ResultadosForam avaliados 162 pacientes, sendo 56,8% (92 casos) do sexo masculino, com mediana de idade de 47 anos (14 - 80 anos). A avaliação prognóstica foi baseada no Índice Prognóstico Internacional (IPI), portanto em relação ao estadiamento clínico de Ann Arbor, IV foi mais frequente que ao III (58,0% vs. 42,0%), a presença de doença bulky esteve presente em 25,9% (n = 42) dos casos e invasão de medula óssea em 24,1% (n = 39). Já em relação às alterações encontradas inicialmente no hemograma, leucocitose >15.000/mm3 esteve presente em 16,1% enquanto linfopenia (< 600/mm3) em 13,6%. Infecção pelo HIV foi detectada em apenas 3,09% dos casos. A desidrogenase láctica (DHL) encontrou-se elevada em 84,6% dos pacientes atingindo valor médio de 578 U/L. Em relação a presença de radioterapia adjuvante no tratamento do LH avançado observamos 32 casos (19,75%). Na avaliação interina, a taxa de RC foi de 25,31% (n = 41), de resposta parcial (RP) de 16,67% (n = 27) e de refratariedade de 3,09 %, com 55% dos pacientes sem relato desta avaliação. Na avaliação final, a RC foi observada em 58,0% (n = 77), a presença de refratariedade em 4,9% e RP em 4,9% (n = 8); não foram encontrados dados de avaliação de resposta ao fim do tratamento em 32,1% dos casos. Houve registro de recidiva em 38 pacientes (23,46% do total), dos quais 50% (n = 19) foram submetidos à transplante de medula óssea autólogo. A taxa de óbito geral foi de 22,2%. A sobrevida global (SG) estimada foi de 88,2% em 3 anos e 85,3% em 5 anos; a sobrevida livre de progressão (SLP) foi de 69,1% em 3 anos e 65,4% em 5 anos.
Discussão e conclusãoOs achados reforçam que, apesar do bom desempenho do ABVD em LH avançado, uma proporção significativa de pacientes apresenta refratariedade ou recidiva, alinhando-se às taxas descritas em estudos internacionais. A alta frequência de bulky, DHL elevado e invasão de medula óssea possivelmente contribuiu para os desfechos observados. Portanto, as taxas de recidiva e mortalidade em subgrupos de alto risco indicam espaço para otimização terapêutica e estratificação prognóstica mais refinada.
Referência:
Armitage JO, Longo DL. Therapy for Hodgkin’s Lymphoma — Can It Get Any Better? N Engl J Med. 2024;391(15):1452-4. doi: 10.1056/nejme2408724.




