HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA micose fungoide (MF) é o subtipo mais comum de linfoma cutâneo de células T, caracterizando-se por curso clínico crônico, indolente e potencialmente progressivo. O manejo terapêutico é determinado pelo estadiamento e pela extensão de acometimento cutâneo. Remissões espontâneas em neoplasias hematológicas são eventos raros, embora descritos, principalmente em linfomas indolentes, e frequentemente associados a quadros infecciosos agudos. Acredita-se que esses episódios reflitam uma ativação imune sistêmica capaz de desencadear resposta antitumoral. A dengue é uma infecção viral endêmica no Brasil, marcada por intensa ativação imunológica, com liberação de citocinas inflamatórias, ativação de células T e resposta de células NK. Esse ambiente imunológico exacerbado poderia, teoricamente, interferir no microambiente tumoral e modular o comportamento de neoplasias. Neste relato, descrevemos um caso de MF com remissão clínica transitória das lesões cutâneas após infecção por dengue, levantando a hipótese de uma modulação imunológica induzida pelo vírus.
Descrição do casoPaciente do sexo masculino, 74 anos, foi diagnosticado em 2020 com micose fungoide (MF), estadiamento clínico IB. Desde então, recebia três sessões semanais de PUVAterapia associadas ao uso de metotrexato oral (20 mg/semana) com resposta parcial. Em abril de 2024, foi encaminhado à nossa instituição para reavaliação e início de terapia sistêmica com brentuximabe por progressão de doença. Durante o reestadiamento, desenvolveu quadro de dengue apresentando remissão espontânea das lesões cutâneas o que levou a suspensão temporária da PUVAterapia. No entanto, a melhora foi transitória, com recidiva das lesões em menos de 60 dias. Tal episódio sugere, de forma relevante, uma possível modulação da doença mediada pela ativação imune induzida pela infecção viral.
ConclusãoRemissões espontâneas de neoplasias hematológicas são raras, mas descritas, especialmente em linfomas indolentes e leucemias agudas, geralmente associadas a infecções. Nosso paciente apresentou remissão temporária das lesão da MF após dengue sem alteração terapêutica. Há relatos semelhantes após infecção por vírus respiratórios, como SARS-CoV-2. Kandeel et al. observaram remissão de leucemias agudas após COVID-19, sem quimioterapia. Casos de linfoma de Hodgkin e folicular também regrediram após COVID-19, sugerindo ativação imune antitumoral. Mecanismos propostos incluem ativação de células NK, resposta de linfócitos T, liberação de citocinas e efeito oncolítico viral. Apesar de não respiratória, a infecção por dengue pode ter induzido inflamação sistêmica capaz de modular o microambiente tumoral e gerar resposta imune transiente. A MF apresenta disfunção imune com predomínio Th2 e exaustão citotóxica, podendo ser momentaneamente revertida por gatilhos inflamatórios. Observações como esta destacam o potencial imunomodulador de infecções virais em linfomas cutâneos.
Referências:
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Kandeel EZ, Refaat L, Salama AM, Abdelrahman Z. Could COVID-19 induce remission of acute leukemia? Hematology. 2021;26(1):870-3. doi:10.1080/16078454.2021.1929630
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