HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO sistema Rh, um dos grupos sanguíneos mais relevantes clinicamente, é composto por cinco antígenos principais (D, C, c, E, e), além de vários antígenos de baixa e alta prevalências. As proteínas RhD e RhCE são codificadas, respectivamente, por dois genes altamente homólogos e polimórficos, o RHD e o RHCE, cujos rearranjos gênicos são responsáveis por numerosos alelos e antígenos variantes. A complexidade dessa variação genética contribui para uma elevada taxa de aloimunização eritrocitária em pacientes politransfundidos, como os com anemia falciforme. A suspeita de variantes pode ocorrer na rotina sorológica, por meio da alteração da expressão dos antígenos ou da presença de anticorpo contra o próprio antígeno do paciente. Entretanto, a caracterização das variantes ocorre exclusivamente por meio de técnicas moleculares.
Descrição do casoPaciente feminina, 54 anos, com histórico transfusional de anti-D em pesquisa realizada em 2024, admitida no ambulatório de hemoglobinopatias, com diagnóstico de anemia falciforme, com dores nos membros inferiores, astenia e contagem de Hb de 4,4 mg/dl. A amostra de sangue foi encaminhada ao laboratório de imuno-hematologia para realização de testes pré- transfusionais. A fenotipagem de hemácias da paciente resultou no tipo A positivo, R1r K- Jk(a+b-) Fy(a+b-) S-s+. A PAI detectou reatividade 2+, em gel Liss/Coombs (BioRad), e 4+ em gel enzima/NaCl (BioRad). O teste de antiglobulina direta (TAD) foi positivo (1+) e eluato em meio ácido também positivo, com pan-aglutinação (4+). Foram identificados três anticorpos IgG (anti-C, anti-e e auto indeterminado) em gel enzima/NaCl. A amostra da paciente foi enviada ao laboratório de referência da Colsan (Associação Beneficente de Banco de Sangue) para realização de genotipagem e pesquisa de variantes RhD e RhCE devido à presença de anti-D no histórico transfusional. Por meio de sequenciamento de DNA foram identificadas as trocas genéticas responsáveis pelo alelo RHD*DAR3 e mutações em heterozigose no exon 3 (c.410C/T e c.455A/C) sugerindo a presença de alelo híbrido. A presença do alelo RHD*03N.01 (D-CE(4-7)-D) foi detectada pela técnica de QMPSF (Quantitative Multiplex PCR of Short Fluorescent Fragments). A investigação de variantes RhCE resultou na detecção de dois alelos variantes, RHCE*ceVS.03/ceVS.04.02. Os resultados moleculares demonstraram a presença de fenótipo raro: D parcial DAR3.1 e C+ parcial (resultado do alelo híbrido) c+ e+ parcial E- V+ VS+ hrB-. Foi solicitado um concentrado de hemácias (CH) ao Cadastro Nacional de Sangue Raro do MS, com fenótipo RhD- (C)ces. Foi disponibilizado pela Colsan um CH com genótipo RHCE*ceVS.03/RHCE*ceVS.03 – RHD*03N.01/RHD*03N.01, o qual foi compatível com o soro da paciente e transfundido sem intercorrências. A variante DAR3.1, anteriormente denominada de D fraco tipo 4.0, tem seu significado clínico questionado, sendo que alguns estudos apontam que pacientes com esta variante podem desenvolver anti-D, enquanto outros autores afirmam que não há risco de aloimuninização. Foi identificado o gene híbrido D-CE(4- 7)D (RHD*03N.01) que leva a ausência da expressão do antígeno D, porém gera a expressão parcial do antígeno C, e também identificada a variante RhCE em ambos os alelos levando a expressão do e parcial.
ConclusãoEste caso reforça a importância da caracterização molecular das variantes Rh em pacientes politransfundidos, como os que apresentam anemia falciforme, permitindo a seleção de doador compatível para maior segurança transfusional.




