HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosAs leucemias agudas, tanto de linhagem mieloide quanto linfoide, são um grupo heterogêneo de neoplasias hematológicas com proliferação anormal de células imaturas que substituem a hematopoese normal. A identificação de anormalidades cromossômicas e genéticas tem ajudado na caracterização de subgrupos, no direcionamento de terapia e prognóstico. A identificação de alterações genéticas por meio do sequenciamento de nova geração (SNG) associado ao cariótipo convencional tem permitido classificar novos subtipos.
ObjetivoRelatar o caso de uma paciente com rearranjo raro que envolve o gene FGFR1 com diagnóstico inicial de uma leucemia linfoblastica B (LLA-B) com progressão para leucemia mieloide aguda (LMA).
Descrição do casoPaciente feminina, 48 anos, com diagnóstico de LLA-B, Philadelphia negativa. Recebeu quimioterapia agressiva, mas a despeito disso, apareceram blastos em sangue periférico após seis meses. Foi solicitada a reavaliação medular. O mielograma mostrou-se hipercelular com 11,7% de blastos. A imunofenotipagem confirmou 8,5% de células de linhagem mieloide imaturas anômalas com expressão de antígenos mieloides CD13, CD33, MPO, CD117, CD34, HLA-DR e CD38. Além disso, havia a presença de 1,5% de células de linhagem B imaturas com os antígenos CD79a, CD19, CD10, CD34 e CD81, portanto havia presença de duas populações de blastos, ou seja, linhagem mieloide e linfoide. Adicionalmente, foi evidenciado na biópsia de medula óssea, hipercelularidade com um infiltrado de células blastoides positivas para MPO e lisozima. Na análise do cariótipo foi evidenciada a t(8;22)(p11.2;q11.2), em 20 metáfases. A pesquisa de mutações por sequenciamento de nova geração (SNG) mostrou uma variante provavelmente patogênica em RUNX1 (c.1036dup, p.Arg346Profs) com VAF 44% e a fusão oncogênica oncogênica BCR::FGFR1, porém com baixos “reads”, o que suscitou à repetição do sequenciamento. Entretanto, como o cariótipo já havia demonstrado a translocação correspondente a tal rearranjo, envolvendo o gene FGFR1, foi possível adiantar informação relevante para a conduta clínica e elucidação do caso. De acordo com os exames informados ao diagnóstico, a paciente não apresentava alterações de prognóstico desfavorável, tais como, Philadelphia e mutação KMT2A, dentre outras. Foi submetida a tratamento, porém, antes de um ano, apareceram blastos, sugerindo recaída. Contudo, a reavaliação mostrou outro subtipo de leucemia, agora mieloide, caracterizada pela maior porcentagem de blastos mieloides.
ConclusãoA transformação de LLA em LMA é extremante rara e pode se dar por determinadas alterações genéticas, a exemplo da t(8;22), detectada no presente caso. Essa translocação corresponde ao rearranjo BCR::FGFR1 e está descrita em <1% dos casos de neoplasia hematológica. Esse rearranjo é pouco frequente e foi recentemente reclassificado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como Neoplasia Mieloide/Linfoide com rearranjo FGFR1. Pode se manifestar com diversos fenótipos, incluindo neoplasia mieloproliferativa com eosinofilia, leucemia mieloide aguda, leucemia linfoblástica aguda T ou B e/ou a leucemia aguda bifenotípica. Diante disso, o cariótipo foi de fundamental importância nesse caso, pois ofereceu celeridade ao processo decisório assim como corroborou a informação obtida pelo SNG. Isso ressalta a importância da associação de exames ainda que, por vezes, redundantes, mas sem dúvida complementares.




