HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA leucemia linfoblástica aguda (LLA) em adultos está associada a menor sobrevida global (SG) e sobrevida livre de progressão (SLP), em grande parte devido a fatores biológicos adversos e a menor tolerância à quimioterapia. Há considerável heterogeneidade nos protocolos terapêuticos empregados nessa população, incluindo, em diferentes contextos, a adaptação de esquemas originalmente desenvolvidos para pacientes pediátricos. Em países com recursos limitados, as disparidades de saúde e o acesso limitado a novas terapias e diagnósticos podem prejudicar o desempenho dos protocolos relatados internacionalmente, levando a resultados inferiores e maior mortalidade.
ObjetivosComparar desfechos clínicos e de sobrevida em pacientes adultos com LLA, submetidos a protocolos de alta intensidade (AI) em comparação com protocolos de intensidade intermediária (II).
Material e métodosEstudo retrospectivo, unicêntrico, conduzido no Brasil, que incluiu pacientes adultos diagnosticados com LLA entre 2013 e 2025. Dados foram obtidos a partir do banco institucional da UNIFESP (CAAE: 87215625.4.0000.5505). Os pacientes foram divididos em dois grupos conforme a intensidade do tratamento: alta intensidade (protocolos GRAALL e HyperCVAD) e intensidade intermediária (protocolos adaptados St. Jude Total XVI e COG-ALL0434), e avaliados quanto a resposta terapêutica, recidiva e desfechos de sobrevida. O processamento dos dados incluiu análises de sobrevida por meio das curvas de Kaplan-Meier, modelo de riscos proporcionais de Cox e teste de log- rank, além de análises univariadas e multivariadas entre grupos e desfechos de interesse.
ResultadosUm total de 71 pacientes foram incluídos na análise; 47,9% eram do sexo masculino e a idade média ao diagnóstico foi de 42,9 anos. Dos casos, 78,0% (56) eram compatíveis com LLA-B (incluindo 18 casos de Ph+); 13,7% (9) LLA-T e 8,3% (6) leucemia bifenotípica. Em relação ao tratamento, 34 pacientes receberam protocolos de AI e 37 protocolos de II, em que 84,8% vs 84,3% alcançaram remissão completa (RC) respectivamente. O status negativo para doença residual mínima (DRM) após a consolidação, foi alcançado em 76,9% vs 68,8% (AI vs II p = 0,697); A taxa de mortalidade em 4 meses foi menor no grupo II do que no grupo AI: 21,1% vs 30,3% (p = 0,421); 45,5% e 50,0% foram submetidos a transplante alogênico de células tronco hematopoéticas (TCTH-A) na primeira RC nos grupos AI e II, respectivamente. Após um acompanhamento mediano de 3,5 anos, a SLP estimada em 3 anos foi superior no grupo II 54,1% (IC95% 34,1-70,4%) vs 33,3% no grupo AI (IC95% 18,2-49,2%), teste log-rank, p = 0,005. A mortalidade relacionada ao tratamento e a mortalidade por recidiva foram: 28,9% e 17,0% no grupo II, em comparação com 39,4% e 27,3% no grupo AI. Na análise multivariada, o tratamento por protocolos de II (OR 0,22, IC95% 0,06-0,82, p = 0,025) e o TCTH-A (OR 0,60, IC95% 0,10-1,10, p = 0,020) foram associados à SLP superior.
Discussão e conclusãoEste estudo demonstra experiência positiva ao incorporar protocolos de intensidade intermediária adaptados, St. Jude Total XVI e COG-ALL0434, no tratamento de LLA-B e LLA de células T, respectivamente, seguidos de TCTH-A na maioria dos pacientes. Diante desses achados, destaca-se que o uso de protocolos pediátricos de II, adaptados para a população adulta, pode oferecer um equilíbrio melhor entre eficácia e toxicidade em LLA, especialmente em contextos de recursos limitados, proporcionando maior sobrevida livre de progressão e menor mortalidade relacionada ao tratamento.




