A anemia falciforme (AF) é uma hemoglobinopatia hereditária caracterizada pela substituição de um aminoácido na sexta posição da cadeia beta globina, dando origem à hemoglobina S que causa alteração morfológica dos eritrócitos. O formato característico de foice causa complicações em portadores da AF. Devido à natureza imprevisível de crises álgicas, os pacientes, especialmente crianças, frequentemente necessitam de atendimento em serviços de urgência e emergência. Entre os principais motivos para procura desses serviços estão dores intensas, episódios recorrentes de crises vaso-oclusivos, inflamação crônica, hemólise, febre persistente, icterícia e sintomas respiratórios, todos reflexos das complicações clínicas agudas da doença.

Descrever os principais motivos de procura por atendimento médico em serviços de urgência e emergência por pacientes pediátricos com anemia falciforme em um hospital infantil da cidade de Manaus.

Estudo transversal retrospectivo baseado na análise de registros clínicos de pacientes com diagnóstico de anemia falciforme atendidos na urgência e emergência de um hospital pediátrico de Manaus entre os anos de 2022 e 2024. Foram incluídos registros com indicação clara do motivo clínico de atendimento. Os dados foram organizados em categorias clínicas e a frequência absoluta de cada manifestação foi contabilizada. A análise descritiva foi feita em planilha do Excel considerando os sinais e sintomas mais prevalentes.

As principais causas de atendimento médico foram: febre (n = 14), tosse (n = 8), dor abdominal (n = 6), diarreia (n = 6), icterícia (n = 5), dispneia e ronco no peito (n = 4), além de sintomas associados a vômito (n = 3), constipação intestinal (n = 2), coriza (n = 2), dor nos membros (n = 2).

Os dados observados corroboram estudos prévios que apontam a febre como o sintoma mais frequente nas crises falciformes, muitas vezes associada a infecções bacterianas graves, como pneumonia e septicemia, que constituem principais causas de mortalidade em pacientes com AF. A dor abdominal e a icterícia refletem crises hemolíticas e obstrução de pequenos vasos, especialmente no fígado e baço, comuns em crianças com doença falciforme. A alta frequência de tosse, dispneia e ronco no peito pode estar relacionada à síndrome torácica aguda, uma complicação pulmonar grave da AF. A análise também revela que sintomas menos específicos como náuseas, letargia e palidez, embora isolados, demandaram atendimento, evidenciando a complexidade clínica da doença.

A febre, dor abdominal, sintomas respiratórios e gastrointestinais foram as principais causas de busca por atendimento médico de pacientes pediátricos com anemia falciforme na urgência e emergência de um hospital infantil de Manaus. A diversidade clínica observada reforça a necessidade de capacitação dos profissionais e protocolos específicos para hospitais não especializados que também atendem pacientes crônicos para o manejo rápido e eficaz das complicações da doença falciforme na infância, visando a redução da morbidade e da letalidade.