HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO eltrombopague, agonista do receptor da trombopoetina, é usado no manejo da trombocitopenia imune e da aplasia medular severa. Entre seus efeitos adversos raros (≥1/1000 e ≤ 1/100)[1], está a hiperpigmentação plasmática, conferindo coloração marrom-escura (“cor de café”) ao plasma. Esse achado pode mimetizar condições como anemia hemolítica, rabdomiólise, hiperbilirrubinemia acentuada ou lipemia, motivando investigação para exclusão de causas patológicas. Relata-se esse efeito adverso incomum, reforçando a importância da correlação clínica-laboratorial para evitar interpretações e condutas equivocadas.
Descrição do casoPaciente, 69 anos, sexo feminino, foi admitida no HC-UFU para investigação de pancitopenia grave. Apresentava hemoglobina de 7,2 g/dL, reticulócitos de 1,53%, leucócitos de 1100/mm³, neutrófilos de 780/mm³ e plaquetas de 8.000/mm³, necessitando múltiplas transfusões de hemácias e aférese plaquetária. Evoluiu com neutropenia febril, também sendo diagnosticada com influenza, tratada com antibióticos e antiviral. O mielograma realizado revelou hipocelularidade global da medula óssea e a biópsia medular confirmou aplasia severa (celularidade < 1% e ausência de fibrose reticulínica). Exames complementares descartaram causas secundárias como deficiência de B12, infecções virais crônicas, síndrome mielodisplásica e neoplasias hematológicas. Recebeu o diagnóstico de anemia aplástica grave e Iniciou o uso de ciclosporina e eltrombopague (150 mg/dia). Vinte e seis dias após o início do eltrombopague, depois da centrifugação de amostra sanguínea, observou-se plasma marrom-escuro (“cor de café”). Diante desse achado, procedeu-se à investigação laboratorial, correlacionada ao quadro clínico, para excluir causas conhecidas desse fenômeno como rabdomiólise, anemias hemolíticas, hiperbilirrubinemia e lipemia com potencial de interferência óptica. Foram dosadas bilirrubinas, creatinofosfoquinase, triglicerídeos e avaliado o índice de lipemia, todos dentro dos valores de referência, afastando essas hipóteses e atribuindo a coloração à hiperpigmentação plasmática induzida pelo eltrombopague.
ConclusãoA coloração marrom-escura do plasma, induzida pelo eltrombopague, decorrente da hiperpigmentação intrínseca do medicamento, é extremamente rara, com incidência estimada entre ≥ 1/1000 e ≤ 1/100. Logo, além de simular outras condições patológicas, que necessitam de investigação, também pode ser subdiagnosticada nos serviços de saúde. Reconhecer esse efeito é fundamental para evitar interpretações laboratoriais equivocadas e condutas desnecessárias. A correlação clínica e a exclusão de causas patológicas evitam interpretações e condutas indevidas, ilustrando como efeitos adversos raros ampliam o diagnóstico diferencial e reforçam a integração entre avaliação clínica e interpretação laboratorial.
Referências:
Rojas CR, et al. Coffee colored serum: adverse reaction of eltrombopag. EJIFCC. 2023;34:258-61.




