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Vol. 47. Núm. S3.
HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
(Outubro 2025)
Vol. 47. Núm. S3.
HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
(Outubro 2025)
ID - 3049
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MANEJO DA ANEMIA GRAVE NO PÓS-PARTO EM PACIENTE TESTEMUNHA DE JEOVÁ: RELATO DE CASO
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IR Bentes Fernandez, SHDSS Teixeira, BTD Barros, EC Junior, IDR Azevedo, KWP Barbosa, FRR Carvalho, MR Silva, RS Ribeiro
Hospital Regional Doutor Abelardo Santos, Belém, PA, Brasil
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HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo

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Introdução

A recusa de transfusão sanguínea por motivos religiosos impõe desafios significativos ao manejo clínico de situações críticas, como a anemia grave. Este relato descreve o manejo da anemia grave em uma paciente do sexo feminino de 33 anos, da religião Testemunha de Jeová, que foi admitida no Hospital Regional Doutor Abelardo Santos, no oitavo dia de pós-parto, com um histórico de sangramento uterino volumoso. A gravidade da situação exigiu seu encaminhamento imediato para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde foi iniciada terapêutica desafiadora.

Descrição do caso

Na UTI, a paciente foi diagnosticada com um quadro de anemia grave, apresentando hemoglobina inicial de 3.3 g/dL, que evoluiu para 2.9 g/dL, e portanto foi aberto protocolo para hemorragia puerperal, incluindo medicações apropriadas procedimentos como a instalação de balão intrauterino para conter quadro de sangramento. Ao exame físico estava hipocorada 4/4+, eupneica, acianótica, anictérica, sem défcits neurológicos, glasgow 15. Na ausculta pulmonar, murmúrio vesicular presente, bilateral, sem ruidos adventícios, Sat O2: 98%, Frequência cardíaca: 105 bpm. Abdome flácido, Extremidades sem edemas, pulsos presentes e cheios. Como Testemunha de Jeová, a paciente manifestou de forma lúcida e inequívoca sua recusa a qualquer transfusão de hemocomponentes. A equipe médica explicou detalhadamente os riscos da situação, tanto para a paciente quanto para seu cônjuge, além de ter aplicado o termo de recusa à transfusão. Em respeito à sua autonomia e liberdade religiosa, foi iniciado um protocolo de tratamento alternativo, que incluiu a administração de ferro endovenoso, eritropoetina e vitaminas B12, B6 e B1, além das medidas para a hemostasia. A resposta ao tratamento foi notável: após 13 dias de internação, sua hemoglobina elevou para 9.0 g/dL, sem ter tido alteração em função renal, hepática, de eletrólitos, além de ácido láctico e gasometria dentro da normalidade. A conduta da equipe assistencial se alinhou com princípios legais importantes, como os Recursos Extraordinários (RE) 979742 e 1212272, julgados pelo Supremo Tribunal Federal, que reforçam o direito de pacientes como as Testemunhas de Jeová de recusarem transfusões de sangue com base em sua liberdade religiosa.

Conclusão

Habitualmente, por razões de responsabilidade ética, não se permite que os pacientes alcancem níveis de hemoglobina tão baixos que os coloquem em risco à vida, não sendo possível por este motivo, conduzir estudos que avaliem as funções orgânicas nessas circunstâncias. No entanto, foi possível avaliar clinico laboratorialmente a evolução desta paciente pela sua peculiaridade religiosa, sem que houvesse desfechos desfavoráveis. O caso relatado reflete um cenário complexo que exige um equilíbrio entre a urgência médica e o direito do paciente de tomar decisões sobre sua própria vida. A rápida e eficaz recuperação da paciente sem a necessidade de transfusões destaca a viabilidade e o sucesso de protocolos médicos alternativos, especialmente quando aplicados de forma precoce e coordenada. O caso ressalta a importância de um sistema de saúde que considere a diversidade de crenças e garanta uma abordagem de atendimento ético, seguro e baseado em evidências.

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Hematology, Transfusion and Cell Therapy
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