HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA β-talassemia é uma hemoglobinopatia hereditária caracterizada por eritropoiese ineficaz, anemia crônica e sobrecarga de ferro, resultante de mutações no gene HBB. Diante disso, os pacientes são classificados conforme a dependência transfusional, o que impacta diretamente na morbidade e qualidade de vida. O Luspatercepte, uma proteína de fusão que modula a via TGF-β, promove a maturação eritróide tardia e representa uma abordagem terapêutica inovadora.
ObjetivosEste trabalho tem como objetivo revisar a eficácia dessa intervenção no manejo de pacientes com eritropoiese ineficaz.
Material e métodosFoi realizada uma revisão da literatura sobre o tema na base de dados PubMed a partir de janeiro de 2010. Foram utilizados os descritores “Luspatercept AND Ineffective Erythropoiesis in Thalassemia”. A busca resultou em 22 artigos. Foram excluídos artigos de opinião, relatos ou séries de casos. Foram incluídos 8 artigos completos que abordaram o uso de luspaterceprte em β-talassemia associado a desfechos clínicos.
Discussão e conclusãoEm um ensaio clínico randomizado, 160 pacientes com β-talassemia foram avaliados quanto à elegibilidade, dos quais 145 foram randomizados para receber luspatercepte (n = 96) ou placebo (n = 49). A maioria dos participantes era do sexo feminino (57%), branca (60%) e apresentava níveis de hemoglobina (Hb) ≤ 10 g/dL. O desfecho primário foi alcançado por 77% dos pacientes no grupo luspatercepte, pois apresentaram aumento ≥ 1,0 g/dL na taxa de Hb, em contraste com nenhum paciente no grupo placebo (a diferença de risco comum foi de 77,1, com IC 95%: 68,7–85,5; p < 0,0001). Além disso, a proporção de pacientes livres de transfusão entre as semanas 1 e 48 foi significativamente maior com luspatercepte em comparação ao placebo (82,3% versus 44,9%; p< 0,0001). Reduções ≥ 33% na carga transfusional foram observadas em 21,4% dos pacientes tratados com luspatercepte versus 4,5% no grupo placebo (p < 0,001), e reduções ≥ 50% ocorreram em 7,6% versus 1,8%, respectivamente (RC [razão de chances] 4,52; IC 95%: 1,02–19,91). Ademais, a melhora na qualidade de vida foi evidenciada na performance física ao utilizar a pesquisa em saúde com a métrica do SF-36 ®v2 (31,1% versus. 16,5%; p = 0,024). Além do que os eventos adversos graves foram menos frequentes no grupo luspatercepte (12% versus. 25%), e não foram registrados eventos tromboembólicos ou óbitos. Os efeitos colaterais mais comuns com luspatercepte incluíram dor óssea (37%), cefaleia (30%) e artralgia (29%). Os achados deste estudo reforçam que o luspatercepte é uma abordagem terapêutica eficaz para pacientes com β-talassemia. O aumento dos níveis de hemoglobina aliado à redução da carga transfusional, evidencia sua capacidade de contornar a eritropoiese ineficaz. Além disso, o impacto positivo na qualidade de vida ressalta seu valor para muito além de parâmetros laboratoriais. Desse modo, tais resultados sustentam que o emprego do luspatercepte na prática clínica, pode reduzir a dependência transfusional e, por consequência, os riscos de sobrecarga de ferro, além de promover evidentes ganhos funcionais ao indivíduo. Diante dos resultados obtidos, o luspatercepte não traz apenas benefícios clínicos imediatos, mas também apresenta perspectivas promissoras para o futuro do tratamento da β-talassemia, uma vez que a continuidade das pesquisas poderá ampliar o leque de terapêuticas similares, ou até mesmo, promover o surgimento de novas terapias que advenham do uso do luspatercepte.




