HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA leucemia mieloide aguda (LMA) é um distúrbio maligno das células-tronco hematopoéticas, caracterizado pela expansão clonal de blastos de linhagem mieloide com diferenciação anormal. Os desfechos da LMA variam de acordo com características da doença e fatores socioeconômicos. Como há poucos estudos comparando diferentes populações, é relevante dispor de uma coorte brasileira para possibilitar comparações com outras regiões.
ObjetivosDescrever as características demográficas e as manifestações clínicas iniciais de pacientes com diagnóstico de LMA em um centro de referência oncológico, comparando a prevalência dos achados com dados previamente descritos na literatura.
Material e métodosEstudo retrospectivo e observacional, incluindo 107 pacientes diagnosticados com LMA no Hospital Erasto Gaertner (Curitiba‑PR). Foram avaliadas idade, sexo e sintomas iniciais, comparando‑se as frequências encontradas com dados disponíveis na literatura, obtidos por meio de busca na base PubMed.
ResultadosOs sintomas mais frequentes na apresentação inicial foram fadiga (56,0%), perda de peso (40,7%), achados hemorrágicos (39,8%) e febre (35,2%), enquanto sudorese noturna foi relatada por 15,7% dos casos. A mediana de idade foi de 48 anos (1–85 anos). Do total, 53,7% eram do sexo masculino e 46,3% do sexo feminino.
Discussão e conclusãoA literatura demonstra que a LMA apresenta mediana de idade mais elevada em países de alta renda, variando entre 60–68 anos, com mais de 75% dos casos em indivíduos acima de 55 anos. Já estudos de países de baixa e média renda mostram maior proporção de pacientes jovens, fenômeno atribuído a diferenças demográficas e à estrutura etária da população. O perfil etário observado na população estudada aproxima-se do descrito em cenários de baixa/média renda, possivelmente refletindo a pirâmide etária brasileira e a abrangência de atendimento a adultos e crianças. A semelhança da distribuição entre os sexos observada (<10% de diferença) está em concordância com estudo recente que não identificou diferenças significativas na sobrevida livre de doença (DFS) ou na sobrevida global (OS) entre homens e mulheres em nenhum dos grupos de risco genético da classificação ELN 2022. Esse achado, consistente em diferentes coortes, pode refletir variações biológicas relevantes, já que análises genômicas apontam diferenças moleculares e hematológicas entre os sexos, incluindo contagens leucocitárias e perfis mutacionais distintos. Nos dados observados pelo centro oncológico brasileiro, a fadiga (56,0%) e os achados hemorrágicos (39,8%) também figuraram entre as manifestações iniciais mais prevalentes, em consonância com os dados do estudo indiano realizado com 102 adultos, no qual a fadiga foi observada em 66,7% e as manifestações hemorrágicas em 44,4% dos casos. Observa-se, contudo, que a febre foi mais frequente na coorte indiana (55,6%) do que na brasileira (35,2%), enquanto a perda de peso (40,7%) foi mais reportada na amostra brasileira, sintoma não destacado no estudo indiano. Esses achados reforçam que diferentes populações podem apresentar variações na prevalência das manifestações clínicas iniciais da LMA. Em síntese, variações em idade, sexo e manifestações iniciais da LMA indicam que fatores demográficos influenciam sua apresentação, reforçando a necessidade de estudos multicêntricos que considerem a heterogeneidade populacional.




