A escassez de sangue e o desperdício de hemocomponentes em cirurgias eletivas são desafios relevantes na prática hospitalar. Com o objetivo de otimizar as reservas cirúrgicas, o Hospital de Força Aérea do Galeão (HFAG) implementou, em 2023, o protocolo Maximum Surgical Blood Ordering Schedule (MSBOS).

Este estudo, de caráter original, quantitativo, observacional e retrospectivo, tem por objetivo avaliar o impacto dessa intervenção na redução de reservas desnecessárias e transfusões evitáveis.

Foram analisados registros do Centro Cirúrgico e do setor de Hemoterapia do HFAG, no período de 2022 a 2024, considerando o número de cirurgias eletivas com reserva de sangue, o total de bolsas cruzadas e o número de transfusões efetivamente realizadas. As médias anuais foram comparadas por ANOVA unidirecional, seguida de teste de Tukey (p < 0,05).

Em 2022 (pré-MSBOS), foram realizadas 1.949 cirurgias eletivas, das quais 762 (39,1%) com reserva, totalizando 1.734 bolsas cruzadas e 202 transfusões (razão reserva/transfusão = 6). Em 2023, primeiro ano pós-implementação, ocorreram 1.975 cirurgias, com 681 (34,5%) reservas, 596 bolsas cruzadas e 98 transfusões (razão = 5). Já em 2024, foram 2.488 cirurgias, com 524 (21,1%) reservas, 571 bolsas cruzadas e 91 transfusões (razão = 6). A ANOVA indicou diferenças estatisticamente significativas entre os anos (2022-2024) para as médias de bolsas cruzadas (p < 0,0001), com redução progressiva (127,67 > 49,67 > 47,58). O mesmo padrão foi observado nas transfusões efetivas (18,5 > 9,5 > 7, p < 0,0001), confirmando a tendência de queda.

A gestão eficiente de hemocomponentes é crucial em hospitais de alta complexidade como o HFAG, referência em cirurgias de grande porte (cardíacas, neurocirúrgicas e ortopédicas) e trauma. Anteriormente, as solicitações de sangue para procedimentos eletivos baseavam-se em recomendações genéricas ou experiência individual de cirugiões e anestesistas, resultando em desperdício significativo. A implementação do MSBOS - protocolo que correlaciona solicitações conforme o risco transfusional de cada procedimento (Friedman et al., 1976) - reduziu em 62,7% as bolsas cruzadas (1.734 para 571) e 54,5% as transfusões (202 para 91) entre 2022- 2024, mantendo a razão reserva/transfusão estável (∼6), demonstrando gestão mais eficiente sem comprometer a segurança (Hall et al., 2013, Woodrum et al., 2017). A tendência decrescente contínua indica progresso na adesão ao protocolo. Embora os resultados comprovem a eficácia do MSBOS, estudos futuros deverão avaliar seu impacto nos custos hospitalares e na disponibilidade para emergências.