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Vol. 47. Núm. S3.
HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
(Outubro 2025)
Vol. 47. Núm. S3.
HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
(Outubro 2025)
ID – 2859
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GOTA TOFÁCEA MEDULAR MIMETIZANDO DOENÇA ONCOHEMATOLÓGICA: RELATO DE CASO
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MG Chavesa, FCL Nunesb, CW Schmitzc, MD Dal Pontb, HS Chikotad, RP Amorime, DM Pazettoa, FP Giacomela
a CEPON, Florianópolis, SC, Brasil
b Viver Clínica Médica, Florianópolis, SC, Brasil
c Medclin Clínica Médica, Florianópolis, SC, Brasil
d IMP Laboratório Médico, Florianópolis, SC, Brasil
e Laboratório Fleury, São Paulo, SP, Brasil
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Vol. 47. Núm S3

HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo

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Introdução

A gota é uma doença inflamatória causada pelo depósito de cristais de ácido úrico, comumente em articulações. Contudo, raramente esses cristais podem infiltrar tecidos profundos, como a medula óssea, mimetizando processos hematológicos, como o mieloma múltiplo.

Descrição do caso

Paciente masculino, 56 anos, previamente hígido, internado com quadro sugestivo de crise gotosa, acompanhado de anemia normocítica e injúria renal aguda (creatinina inicial 2,9 mg/dL em fevereiro de 2025). Relata dor articular crônica há mais de 30 anos e perda ponderal de 25 kg desde março de 2025, após mudança alimentar. Evoluiu com melhora parcial da função renal (creatinina 1,6 mg/dL), mantendo anemia (Hb 9,6 g/dL) e VHS > 140 mm. Exames laboratoriais mostraram ácido úrico elevado (11,3→9,7 mg/dL), ferritina 734 ng/mL, PCR 56 mg/L, beta-2-microglobulina 3,67 mg/L e discretas alterações em eletroforese de proteínas séricas (elevação de frações alfa e beta). Imunoglobulina IgA próxima ao limite superior da normalidade (399 mg/dL), com relação Kappa/Lambda normal (k: 50,76; λ: 39,21; k/λ: 1,29). Não houve detecção de componente monoclonal em imunofixação sérica e urinária. Sorologias virais negativas. Biópsia de medula óssea (11/07/2025) demonstrou medula hipercelular (60%), com discreta atipia eritroide e raros plasmócitos bem diferenciados. Destacou-se tecido fibroso extramedular contendo processo inflamatório granulomatoso com células gigantes multinucleadas circundando material amorfo eosinofílico. Pesquisas para bacilos álcool-ácido resistentes, fungos e amiloide foram negativas. Imuno- histoquímica revelou 3% de plasmócitos com relação de cadeias leves preservada. CD68 positivo em células gigantes multinucleadas. Sem aumento de precursores hematopoéticos CD34/CD117. Achados compatíveis com depósito de cristais de ácido úrico, conforme correlação clínico-laboratorial. A apresentação inicial com anemia e disfunção renal levantou a hipótese de doença hematológica, especialmente mieloma múltiplo. A discreta elevação de IgA e cadeias leves livres Kappa, aliadas a alterações em eletroforese, reforçaram a suspeita. No entanto, ausência de componente monoclonal e achados histológicos sugestivos de depósito de ácido úrico na medula desviaram a hipótese diagnóstica para gota tofácea medular — condição rara e pouco documentada. O envolvimento medular por cristais de ácido úrico pode causar disfunção hematopoiética, simulando neoplasias hematológicas. O diagnóstico diferencial com mieloma múltiplo exige avaliação completa: proteínas totais e frações, imunofixação, dosagem de cadeias leves, biópsia de medula e estudo imuno-histoquímico.

Conclusão

Este caso destaca a importância de considerar causas não malignas em pacientes com anemia, injúria renal e alterações laboratoriais sugestivas de gamopatia. A infiltração de medula óssea por cristais de ácido úrico é uma manifestação rara da gota, que pode mimetizar doenças hematológicas, sendo essencial a correlação clínica, laboratorial e histopatológica para diagnóstico preciso.

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Hematology, Transfusion and Cell Therapy
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