HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Leucemia Linfoblástica aguda (LLA) é a neoplasia maligna mais comum da infância, caracterizada por grande heterogeneidade clínica e prognóstica. Avanços nos protocolos terapêuticos, como GBTLI e BFM, resultaram em melhores taxas de sobrevida global, porém a recidiva precoce e os eventos infecciosos graves ainda constituem desafios significativos. Estudos internacionais destacam a relevância de fatores clínicos, laboratoriais e moleculares no desfecho, mas faltam análises nacionais comparando sistematicamente diferentes protocolos sob o contexto real brasileiro.
ObjetivosEste estudo visa comparar os desfechos clínicos e laboratoriais de pacientes pediátricos com LLA tratados pelos protocolos GBTLI e BFM, identificando fatores associados à recidiva, mortalidade, necessidade de internação em unidade de terapia intensiva e transplante de medula óssea.
Material e métodosRealizou-se estudo retrospectivo observacional, incluindo 163 pacientes pediátricos com LLA tratados em centro de referência entre 2010 e 2024. Variáveis demográficas, clínicas e laboratoriais foram coletadas de prontuários eletrônicos. A análise estatística incluiu testes de Mann-Whitney, Qui-Quadrado, correlação de Spearman, curvas de Kaplan-Meier e teste de log-rank para sobrevida global. O nível de significância adotado foi p < 0,05.
ResultadosDos 163 pacientes, 70 receberam GBTLI e 92 receberam BFM. Os grupos apresentaram distribuição semelhante de sexo e idade. Foi evidenciado que as necessidades de internação em unidade de terapia intensiva e de realização de transplante de medula óssea não marcaram diferença considerável entre os protocolos, com (p= 0,38) e (p=0,67), respectivamente. Porém, o grupo GBTLI apresentou incidência de recidiva consideravelmente maior (n = 35 vs. n =15 no BFM), resultando em p<0,001. Tais recidivas verificadas no GBTLI ocorreram em média após 32,5 meses, em comparação com a média do BFM de 23,6 meses, p = 0,042. O estudo também apontou maior incidência de óbitos com o uso do protocolo GBTLI: 34 óbitos em 68 pacientes, ou 50%; em comparação ao BFM: 32 óbitos em 90 pacientes, ou 35,6%, gerando um valor de p=0,06. Vale ressaltar, que os pacientes GBTLI que vieram a óbito tiveram média de sobrevida de 32,9 meses (erro padrão = 5,1), enquanto os óbitos registrados pelo grupo BFM ocorreram em uma média de 8,6 meses (erro padrão = 1,7).
Discussão e conclusãoO protocolo GBTLI foi associado a um maior tempo até a recidiva e maior média de sobrevida em se tratando dos óbitos, porém os achados reforçam a importância do protocolo BFM para menor taxa de recidiva e mortalidade global independentemente das características clínicas iniciais. É fundamental considerar que, à luz dos resultados observados, há uma possível associação entre o protocolo de tratamento e a mortalidade dos pacientes, justificando investigações adicionais com amostras ampliadas ou análises multivariadas. Em contextos clínicos, onde cada vida importa, tendências como esta não devem ser desconsideradas e merecem atenção cuidadosa na tomada de decisão terapêutica e no planejamento de futuras pesquisas. Limitações do estudo incluem o delineamento retrospectivo e possíveis vieses institucionais. Estes resultados destacam a necessidade de estratégias para redução de recidiva e mortalidade infecciosa. Estudos prospectivos multicêntricos e com análises multivariadas são recomendados para aprofundar a compreensão dos fatores prognósticos no contexto brasileiro.




