HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO mieloma múltiplo (MM) é uma neoplasia hematológica da medula óssea, causada pela proliferação clonal de plasmócitos. Entre 2008 e 2017, a incidência no Brasil foi estimada em 1,24 casos por 100 mil habitantes. Clinicamente, o MM se manifesta por hipercalcemia, insuficiência renal, anemia ou lesões ósseas líticas; associadas à ≥ 10% de plasmócitos clonais na medula. No Sistema Único de Saúde (SUS), antes de 2022, o tratamento era baseado em agentes alquilantes, corticoides e imunomoduladores, com destaque para o esquema talidomida, ciclofosfamida e dexametasona (CTD). Para pacientes elegíveis, o TACTH é uma terapêutica consolidada. Em 2022, o bortezomibe foi implementado no SUS.
ObjetivosAvaliar dados clínicos-laboratoriais e resposta ao tratamento com CTD seguidos de TACTH em pacientes com MM.
Material e métodosEstudo retrospectivo com análise de prontuários de pacientes tratados com CTD seguido de TACTH em um serviço do SUS, antes da implementação do bortezomibe.
ResultadosForam avaliados 23 pacientes no diagnóstico. A idade variou entre 42 e 74 anos (média de 61,17; mediana 62), com predomínio feminino (60,87%). O pico monoclonal foi detectado em 43,47% e em 65,22% casos, pela eletroforese de proteínas (EP) e imunofixação sérica (IFS), respectivamente. Quanto ao estadiamento ISS (International Scoring System): 47,83% estavam em estágio III, 17,39% em II e 34,78% em I. Em relação às manifestações: 30,43% apresentaram hipercalcemia (média cálcio iônico: 2,70; mediana 1,27); 9% insuficiência renal (média creatinina: 1,79 mg/dL; mediana: 0,9 mg/dL); anemia (hemoglobina média: 10,67 g/dL; mediana 9,9 g/dL); e 34,78% tinham ≥1 lesão osteolítica. A média de plaquetas foi de 243.957/mm3 (mediana: 235.000/mm3). Todos foram submetidos ao TACTH: 9% menos de 12 meses, 78,26% em 1 ano, e 13% após mais de 1 ano. Quanto à resposta: 26,09% alcançaram resposta completa (RC), 4,34% resposta parcial muito boa (RPMB), 30,43% resposta parcial (RP) e 39,13% resposta ausente (RA). O tempo de seguimento teve média de 5,17 anos (mediana: 4 anos).
DiscussãoA média etária (61,17 anos) está de acordo com a epidemiologia do MM, predominando após 60 anos. Apesar do leve predomínio masculino na literatura, observou-se maior proporção de mulheres (60,87%). A alta frequência de pacientes em ISS III (47,83%) sugere diagnóstico tardio, refletindo barreiras no acesso precoce. A anemia foi a manifestação mais comum (73,91%). A alta taxa de pico monoclonal na IFS (65,22%) reflete a elevada prevalência desse achado em pacientes com MM e reforça a maior sensibilidade da técnica em relação à EP. O tempo prolongado até o TACTH, maioria após 12 meses, pode comprometer os desfechos, sendo o ideal entre 4 e 6 meses após a indução. A taxa de RC (26,1%) é semelhante à de estudos com CTD em populações sem acesso ao bortezomibe. Apesar de inferior aos esquemas modernos, o CTD segue como opção viável e custo-efetiva no SUS diante das limitações de acesso a novas terapias.
ConclusãoO regime CTD seguido de TACTH demonstrou eficácia em parte dos pacientes, mesmo com limitações. O diagnóstico tardio e longo intervalo até o TACTH revelam fragilidades no SUS. Estratégias para diagnóstico e tratamento precoce são fundamentais para melhorar os desfechos no MM.




