HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO termo ~leucemia mieloide aguda” se refere a um grupo heterogêneo de doenças hematológicas malignas caracterizada pela proliferação clonal de precursores mielóides imaturos na medula óssea, sangue periférico e, eventualmente, em outros tecidos. É a leucemia mais prevalente na população, com uma idade média ao diagnóstico de 68 anos, sendo mais comum no sexo masculino. A tricoleucemia, por sua vez, é uma rara neoplasia linfoproliferativa crônica, classificada como uma leucemia de células B maduras, caracterizada por células leucêmicas distintas que infiltram medula óssea e baço e, menos comumente, o fígado e linfonodos. Representa 2% das leucemias linfóides e afeta predominantemente homens de meia-idade. A tricoleucemia também pode se manifestar com citopenias, esplenomegalia e infecções recorrentes secundárias. Muitos pacientes são assintomáticos com achados incidentais em exames complementares. A concomitância ou sobreposição de LMA e tricoleucemia em um mesmo paciente é extremamente incomum, sendo escassos os casos descritos na literatura. Tal associação impõe desafios diagnósticos e terapêuticos relevantes, além de implicações prognósticas. Neste relato, descrevemos o caso de um paciente diagnosticado com leucemia mieloide aguda com achados histopatológicos de tricoleucemia, discutindo abordagens terapêuticas e revisando a literatura disponível sobre essa associação.
Descrição do casoPaciente sexo masculino, 68 anos, hipertenso e diabético. Procurou atendimento médico por fadiga, palidez mucocutânea e prostração. Na admissão foram realizados exames laboratoriais que evidenciaram pancitopenia. Na sequência, foi realizado aspirado e biópsia de medula óssea. Identificada infiltração por células blásticas no anatomopatológico e na imunofenotipagem presença de 26% de células de linhagem mieloide imaturas, que expressam antígenos mieloides CD13, CD33 e mieloperoxidase intracitoplasmática, e presença de 9% de células de linhagem B maduras clonais, que expressam os antígenos CD19, CD20, CD79b, CD22 e imunoglobulina de cadeias leve kappa de superfície, em associação com expressão de CD103, CD305, CD200 e CD11c, exame compatível com leucemia mieloide aguda e tricoleucemia, respectivamente. Optou-se por realizar o tratamento quimioterápico com protocolo de terapia de indução com 7+3 (daunorrubicina D1 – D3 em associação com citarabina D1 – D7). No no 10º dia de internação, paciente evoluiu com neutropenia febril, acabou sendo transferido para leito de unidade de terapia intensiva devido a choque séptico com disfunção orgânica e necessidade de intubação orotraqueal e droga vasoativa, sem resposta às medidas e consequentemente evoluindo a óbito.
ConclusãoA concomitância entre tricoleucemia e leucemia mieloide aguda é um evento raro, com poucos relatos na literatura. Essas duas entidades representam neoplasias hematológicas de linhagens distintas. A coexistência levanta hipóteses fisiopatológicas ainda não bem esclarecidas. O caso relatado evidencia a concomitância ou até mesmo a sucessão entre leucemia mieloide aguda e tricoleucemia, ressaltando a importância da investigação clínica e laboratorial detalhada. A correta diferenciação entre essas neoplasias, por meio de imunofenotipagem e avaliação morfológica, é essencial para a definição terapêutica e prognóstica. A abordagem deve ser individualizada, considerando performance status do paciente, características citogenéticas/moleculares da leucemia mieloide aguda e história prévia de tratamento, caso houver.





