HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA sífilis é uma infecção cuja triagem laboratorial é obrigatória nas doações de sangue. No Brasil, embora o Ministério da Saúde recomende a inaptidão temporária por 12 meses após o tratamento de doadores diagnosticado pela doença. No entanto, alguns estados adotam diretrizes mais restritivas. Desde 2011, o Hemocentro de Santa Catarina (HEMOSC) estabelece a inaptidão definitiva para doadores com cicatriz sorológica, com base em testes treponêmicos. Paralelamente, observa-se um aumento expressivo nos casos de sífilis adquirida e congênita no estado, futuramente que pode, a longo prazo, impactar negativamente os estoques de sangue. A exclusão permanente de indivíduos com infecção pregressa e tratada, que não apresentam riscos ao receptor, levanta questionamentos sobre a necessidade de revisão de protocolos.
ObjetivosAnalisar a prevalência e o perfil dos doadores de sangue inaptos por sífilis em Santa Catarina entre 2011 e 2023.
Material e métodosEstudo retrospectivo e descritivo com base em dados secundários do HEMOSC. Realizou-se análise estatística descritiva com o software Epi Info 7.2.5 e construção de mapa coroplético via QGIS 3.28.10. A população analisada incluiu doadores inaptos na triagem clínica com histórico de sífilis ou com testes confirmatórios reagentes para sífilis. Foram excluídos os casos sem confirmação diagnóstica. Sífilis recente foi considerada quando o participante apresentava todos os testes de triagem e repetição reagentes (treponêmicos e não-treponêmicos) e cicatriz sorológica se os testes treponêmicos eram reagentes e o não-treponêmico não-reagente. Os dados foram tratados de forma agregada e anônima, conforme a Resolução n° 466/2012 do CNS, com aprovação do Comitê de Ética da Fiocruz Brasília.
ResultadosNo período analisado, 1.922.756 triagens foram registradas, das quais 8.019 (0,42%) resultaram em inaptidão definitiva por sífilis, sendo 85,2% sorológica e 14,8% clínica. A maioria dos inaptos sorológicos apresentava cicatriz sorológica (60,3%). O pico de inaptidão ocorreu em 2012 (0,73%), seguido por 2022 e 2023 (0,67%). A taxa de inaptidão clínica apresentou crescimento ao longo do período. As maiores proporções de inaptos foram observadas nas macrorregiões da Serra Catarinense (17,8%) e Grande Oeste (14,6%). O perfil dos inaptos revelou predominância de doadores de primeira vez (65,6%), sexo masculino (53%), com idade entre 20–29 anos (31,9%), brancos (91,2%), com ensino médio completo (35,2%) e casados ou em união estável (48,5%). A taxa de inaptidão total foi maior entre doadores de primeira vez, em 2012 e a partir de 2021. Quanto à tipagem sanguínea, o grupo O RhD positivo foi o mais frequente entre os inaptos, seguido pelo grupo A. O grupo AB foi o menos acometido.
Discussão e conclusãoA elevada frequência de inaptidão sorológica por cicatriz sorológica reacende o debate sobre a exclusão definitiva de doadores com histórico de sífilis. Embora essa medida vise assegurar a segurança transfusional, pode resultar na perda de doadores potencialmente elegíveis, já tratados e curados. Esse impacto torna-se ainda mais relevante diante do contexto epidemiológico de Santa Catarina, que apresentou as maiores taxas de detecção de sífilis adquirida no Brasil em 2022 e 2023. Conclui-se que, apesar da ora a conduta adotada pelo HEMOSC em priorizar a segurança, revisões periódicas deste critério são recomendadas para equilibrar a proteção do receptor com a necessidade de manter estoques sanguíneos adequados.




