HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA contaminação microbiológica por fungos e bactérias pode ocorrer durante a coleta e/ou manipulação de produtos de terapia celular. O controle microbiológico está entre os testes previstos na legislação para análise da qualidade dos produtos e tem importância para a segurança do transplante, visto a condição de imunossupressão dos pacientes.
ObjetivosAvaliar a contaminação microbiológica de produtos de terapia celular coletados por aférese no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e a utilização destes, tanto em doadores autólogos, quanto alogênicos. Material e métodos: Foi realizada uma pesquisa retrospectiva nos registros dos exames microbiológicos de todas as coletas realizadas no período de janeiro de 2019 a julho de 2025 no HCPA. As coletas de aférese foram realizadas utilizando os equipamentos Spectra Optia® (Terumo BCT) e COBE® Spectra (Terumo BCT - até julho 2019). Os exames microbiológicos foram realizados utilizando frascos de hemocultura em aerobiose (pediátricos) e anaerobiose, de acordo com as especificações do fabricante, utilizando os sistemas BacT/Alert (bioMérieux, Durham, NC - até dezembro 2023) e BD Bactec (Becton, Dickinson, Sparks, MD - janeiro 2024 em diante).
ResultadosDurante o período foram coletados 562 produtos de terapia celular, incluindo células progenitoras hematopoéticas e linfócitos de doador. O índice geral de contaminação do período foi de 3,6%. Os valores anuais, considerando os anos de 2019 até 2025, sucessivamente, foram: 0,8; 1,5; 4,0; 9,0; 6,6; 1,3 e 0,0%. Dos 20 produtos com resultado microbiológico positivo, 18 foram de coletas autólogas e dois de coletas alogênicas. Os microrganismos identificados no período foram: Staphylococcus epidermidis (12), Staphylococcus aureus (2) e Burkholderia gladioli (2). Em quatro amostras, o microrganismo não foi identificado. Foram infundidos 18 produtos com contaminação microbiológica (dois alogênicos e 16 autólogos; quatro a fresco e 14 criopreservados), sendo que 17 pacientes apresentaram pega neutrofílica média em 12 dias (16,5 dias para transplantes alogênicos e 11,7 dias para transplantes autólogos) e pega plaquetária média em 15,7 dias (23,0 dias para transplantes alogênicos e 14,7 dias para transplantes autólogos). Um dos pacientes, com outras complicações infecciosas e clínicas prévias, recebeu produto com S. epidermidis e foi à óbito após três dias da infusão.
Discussão e conclusãoO índice médio de contaminação observado no período está de acordo com a ocorrência descrita na literatura. Os microrganismos identificados são comumente encontrados no ambiente e na flora epitelial. O controle de contaminação dos produtos oportuniza um acompanhamento dos padrões de qualidade de coleta e processamento de produtos de terapia celular, bem como possibilita a avaliação da necessidade de condutas adicionais ao paciente que receberá o produto.




