HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Hemocromatose hereditária do tipo 1 (HH1) é uma doença que promove um distúrbio da homeostase do ferro devido à desregulação do eixo hepcidina-ferroportina que pode levar a danos orgânicos pelo acúmulo e efeito oxidativo daquele mineral. É uma doença de penetrância parcial e que o risco de sobrecarga de ferro orgânico clinicamente importante está relacionado ao genótipo adquirido, a idade do paciente e comorbidades associadas. Os genótipos C282Y/C282Y, principalmente, e C282Y/H63D possuem maior capacidade de acúmulo de ferro. As manifestações clínicas iniciam por volta da 4ª-5ª década de vida quando o acúmulo do mineral atinge níveis clinicamente relevantes. Diabetes melittus, hepatopatias, obesidade e etilismo são as principais comorbidades capazes de facilitar um acúmulo de ferro clinicamente importante em indivíduos com genótipos de HH1 de alta penetrância.
ObjetivosAnalisar a investigação, distribuição dos genótipos mutantes do HFE e diagnósticos de HH1 nos pacientes avaliados no ambulatório de hematologia do HC da UFTM.
Material e métodosTrata-se de um estudo primário, analítico observacional, retrospectivo desenvolvido por meio da avaliação de dados epidemiológicos, clínicos e laboratoriais. Os dados obtidos foram analisados pelo programa IBM® SPSS® versão 24.0. As variáveis qualitativas foram analisadas por meio do teste qui-quadrado e as diferenças foram consideradas significativas quando p < 0,05.
ResultadosForam avaliados 73 pacientes testados para HH tipo 1 no ambulatório de Hematologia, sendo 74% do sexo masculino, 68,4% autodeclarados brancos e a maioria advindos de Uberaba/MG. A hiperferritinemia isolada correspondeu a 74,2% dos encaminhamentos, enquanto em 23,3% estava associada a uma causa secundária. A média de ferritina da população foi de 793 ng/dL na avaliação ambulatorial. Do total de pacientes testados, 54,7% (n=40) possuíam o alelo selvagem do gene e 45,3% (n=33) portadores do alelo mutado com a seguinte distribuição: 70% H63D/-, 9,0% C282Y/-, 9,0% C282Y/H63D, 9,0% C282Y/-, 6,0% H63D/H63D e 6,0% C282Y/C282Y. Um outro caso foi diagnosticado com hemocromatose hereditária por provável mutação não-HFE. A equipe médica assistente diagnosticou 28 pacientes com hemocromatose hereditária, a maioria com genótipos de baixa penetrância, enquanto a equipe do estudo diagnosticou seis pacientes, todos com genótipos de alta penetrância (p < 0,05).
Discussão e conclusãoA penetrância da HH1 é variável a depender principalmente do genótipo, idade e comorbidades. Os genótipos C282Y/C282Y, principalmente, e C282Y/H63D são aqueles de maior penetrância, enquanto os demais não possuem capacidade de gerar acúmulo de ferro clinicamente importante. A não consideração das características patogênicas entre os diferentes genótipos mutantes associadas à idade do paciente e às comorbidades na capacidade de promover acúmulo orgânico de ferro clinicamente importante podem justificar a disparidade entre os diagnósticos etiológicos observados entre as equipes. A HH1 é uma doença de penetrância variável, sendo necessário considerar o impacto dos diferentes genótipos, idade e comorbidades para se obter diagnósticos assertivos daquela doença para, assim, evitar-se erros diagnósticos e intervenções terapêuticas desnecessárias.
Referências:
Anderson GJ, Bardou-Jacquet E. Revisiting hemochromatosis: genetic vs. phenotypic manifestations. Ann Transl Med. 2021;9:731.
Fitzsimons EJ, et al. Diagnosis and therapy of genetic haemochromatosis (review and 2017 update). British Journal of Haematology. 2028;181:293-303.




