HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosPacientes com Síndrome de Down (SD) têm predisposição ao desenvolvimento de Leucemias na infância, apresentando um risco de 150 vezes maior para o desenvolvimento de Leucemia Mieloide Aguda (LMA) até os 5 anos de idade, devido a associação entre as condições moleculares da trissomia, mutações oncogênicas e alterações epigenéticas. Cerca de 10% dos neonatos com SD tem uma condição transitória, que pode ser silenciosa ou não, denominada Mielopoiese Anormal Transitória (TAM). Nesse caso, resolve-se espontaneamente entre 3 e 6 meses, mas cerca de 20% dos casos podem evoluir para Leucemia Mieloide da Síndrome de Down (LM-SD). Um gene amplamente estudado nessa condição é o GATA1, presente no cromossomo X, responsável por codificar um fator de transcrição essencial para a diferenciação de células da linhagem hematopoiética.
ObjetivosApresentar o perfil de pacientes pediátricos com diagnóstico de Mielopoiese Anormal Transitória, a partir da análise das amostras recebidas em um hospital pediátrico de referência no período de 2019 a 2025.
Material e métodosRealizado um estudo de coorte retrospectivo avaliando a origem das amostras recebidas por um hospital pediátrico referência no diagnóstico de TAM e LM-SD por meio de dados disponíveis em formulário eletrônico. A detecção das variantes em GATA1 para diagnóstico dos casos foi realizada por meio da análise de sequenciamento do DNA pela metodologia de Sanger.
ResultadosDo total de 94 pacientes analisados, 17% eram provenientes do Distrito Federal, seguido por São Paulo, com 12,7%. Foram identificadas mais de 71 variantes no gene GATA1, sendo principalmente duplicações e indels (inserções e/ou deleções) localizadas majoritariamente no éxon 2. Entre os pacientes avaliados, 42 (44,6%) receberam diagnóstico de Mielopoiese Transitória Anormal (TAM), sendo que apenas 12 (28,5%) foram acompanhados longitudinalmente. Destes, 35,1% eram do sexo feminino e 64,8% do sexo masculino, com média de idade ao diagnóstico de 3-meses, sendo que os valores de leucometria estavam disponíveis para 7 desses pacientes (58,3%), com média de 17.000 μL (variação: 2.450‒50.600 μL). Além disso, 63,3% apresentavam mais de 20% de blastos nas amostras, entre sangue periférico e medula óssea. Dentre os casos acompanhados, 5 pacientes (41,6%) apresentaram regressão espontânea do quadro, enquanto 7 (58,3%) evoluíram para leucemia mieloide.
Discussão e conclusãoDivergente da literatura, o hospital apresentou maior porcentagem de pacientes que progrediram com o desenvolvimento da doença devido ao viés de recebimento das amostras, sendo estas já previamente indicadas pela sintomatologia dos pacientes. Não há conclusões sobre os motivos para alguns pacientes remitirem de forma espontânea, enquanto outros desenvolverem leucemia. Alguns autores defendem que há relação com a desregulação epigenética, bem como o desenvolvimento de variantes genéticas adicionais nos clones leucêmicos, porém serão necessários novos estudos mais aprofundados para a descoberta dos principais fatores relacionados a essa transformação. O acompanhamento do paciente nos primeiros meses de vida até os 2 anos é essencial, haja vista que há maior incidência de transformação ocorre entre 1 e 2 anos.
Referências:
Camargo, R. et al. A sensitive and inexpensive high-resolution melting-based testing algorithm for diagnosis of transient abnormal myelopoiesis and myeloid leukemia of Down syndrome. Pediatric Blood and Cancer, Brasília, v. 69, n. 11, jun. 2022.




