HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA hemofilia A é uma coagulopatia hereditária ligada ao cromossomo X, caracterizada pela deficiência funcional do fator VIII. A formação de inibidores contra esse fator é uma complicação imunológica relevante, que compromete a eficácia do tratamento e exige monitoramento laboratorial rigoroso (Escobar et al., 2021). A quantificação desses inibidores, embora essencial, é uma técnica altamente sensível e sujeita a variações interlaboratoriais relacionadas a reagentes, equipamentos e condutas analíticas. No contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), a adoção de práticas de benchmarking pode otimizar recursos, promover padronização metodológica e aumentar a confiabilidade diagnóstica (WFH, 2020).
ObjetivosImplementar um projeto piloto de benchmarking entre centros públicos especializados em hemofilia A, com o intuito de padronizar a dosagem de inibidores do fator VIII, ampliar a reprodutibilidade analítica e fomentar colaborações institucionais.
Material e métodosO projeto piloto contou com a participação do Centro Estadual de Análises Clínicas da Zona Leste de São Paulo alocado no Hospital de Transplantes Euryclides de Jesus Zerbini e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Foram harmonizados os protocolos analíticos, com a padronização metodológica entre os centros. Amostras controle e clínicas foram compartilhadas para assegurar a comparabilidade dos resultados. Os critérios de diluição foram revisados criticamente e foram conduzidas análises comparativas interinstitucionais, com o objetivo de gerar dados estatísticos robustos que subsidiem, futuramente, a definição do erro total permitido e do coeficiente de variação aceitável. As determinações foram realizadas em paralelo, sendo posteriormente avaliadas quanto à concordância interlaboratorial e à reprodutibilidade analítica.
ResultadosA iniciativa viabilizou a identificação de fontes críticas de variabilidade analítica, a padronização de etapas operacionais e o fortalecimento do alinhamento técnico entre os centros participantes. A proximidade geográfica, aliada ao intercâmbio contínuo de informações e à integração de práticas laboratoriais, contribuiu significativamente para a consolidação de uma rede colaborativa sustentável. Como resultado, observou-se um aprimoramento substancial na confiabilidade dos processos analíticos e na segurança da liberação dos laudos. Ademais, a geração de dados estatísticos robustos reforça o embasamento técnico necessário para a melhoria contínua da qualidade dos exames laboratoriais. Espera-se, com isso, constituir uma base comparativa sólida e reprodutível, capaz de subsidiar análises multicêntricas futuras, estabelecer parâmetros de desempenho e orientar estratégias de monitoramento e controle da performance analítica no âmbito interlaboratorial.
Discussão e conclusãoO benchmarking interlaboratorial mostrou-se uma estratégia viável e eficaz para padronizar a dosagem de inibidores do fator VIII em serviços públicos especializados. A uniformização de práticas e o intercâmbio técnico entre os centros fortaleceram a robustez metodológica, com reflexos positivos na segurança terapêutica e na qualidade assistencial. A proposta é escalável e aplicável a diferentes regiões, inclusive aquelas geograficamente próximas, porém remotas em termos de acesso a centros de referência, configurando-se como uma iniciativa estratégica para a rede pública de atenção às coagulopatias hereditárias.
Referências:
World Federation of Hemophilia. Guidelines for the Management of Hemophilia, 2020. ESCOBAR, M. et al. Haemophilia, 2021.




