HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA transfusão de hemácias, essencial no tratamento da Doença Falciforme (DF), acarreta alto risco de aloimunização. Existe uma lacuna na literatura sobre a taxa de novos aloanticorpos em pacientes previamente sensibilizados. Recomenda-se que os testes pré-transfusionais sejam capazes de detectar e identificar a presença de anticorpos clinicamente significativos recentemente formados.
ObjetivosDeterminar a taxa de incidência e o perfil de novos aloanticorpos em pacientes com DF já aloimunizados, determinar o tempo médio para a identificação do anticorpo pelo laboratório de referência ‒ Central de Imuno-Hematologia (CIH), e avaliar a efetividade de um protocolo de triagem expandida pré-transfusional implementado no Hemocentro de Belo Horizonte (HBH).
Material e métodosEstudo retrospectivo em pacientes com DF, previamente aloimunizados, atendidos no ambulatório do HBH e que receberam >1 transfusão concentrado de hemácias fenotipadas pelo Setor de Prova Cruzada do HBH, no período de 1° de junho de 2022 a 1° de junho de 2024. Avaliou-se um protocolo que utiliza um painel de triagem de hemácias expandido, com 5 hemácias, através de dois kits com perfis antigênicos distintos, em paralelo (ID Diacel I/II, padrão, e ID Diacel I/II/III, adicional) para a Pesquisa de Anticorpos Irregulares (PAI) no atendimento pré- transfusional. Além disso, foram encaminhadas amostras para Identificação de Anticorpos Irregulares (IAI) pela CIH em intervalo definidos: quinzenal, se PAI positivo, ou anual, se PAI negativo.
ResultadosForam realizados 1.933 testes em 129 pacientes. Foram identificados 50 novos aloanticorpos em 45 pacientes (34,9%), sendo os principais grupos de sistemas Rh (n = 22; 44%), Lewis (n = 8; 16%), Kell (n = 6; 12%) e Diego (n = 5; 10%). Dos testes, 489 apresentaram positividade sorológica em alguma das hemácias de triagem, sendo 39 apenas no kit padrão e 100 apenas no kit adicional. Foram identificados 15 aloanticorpos exclusivamente a partir do uso do kit adicional, incluindo anticorpos como Anti-Dia (n = 3), Anti-K (n = 2), Anti-Kpa (n = 1) e Anti-HLA (n = 1). Das 108 amostras com triagem negativa por um ano ou mais e encaminhadas para IAI pela CIH, 15 (13,9%) tiveram anticorpos identificados, dentre os quais: anticorpos de especificidade não determinada (n = 5), anti-E (n = 3), autoanti-C (n = 2), autoanti-c (n = 1), autoanti-e (n = 1), autoanti-D (n = 1), anti-IH (n = 1), anti-V (n = 1) e anti-HLA (n = 1). O tempo médio para identificação de anticorpos pela CIH foi de 4,08 dias, variando de 0 a 62 dias.
Discussão e conclusãoO estudo demonstrou a incidência de 34,9% de novos aloanticorpos em pacientes com DF previamente aloimunizados, com destaque para a elevada frequência de anticorpos dos sistemas Rh e Kell, mesmo compatibilização os sistemas Rh e Kell em 100% dos pedidos. O protocolo de atendimento do Hemocentro de Belo Horizonte, utilizando painel de triagem expandido e atualização de IAI periódica, provou ser efetivo ao aumentar significativamente a detecção de anticorpos clinicamente importantes, que seriam perdidos na rotina padrão. A estratégia adotada é fundamental para aumentar a segurança transfusional nesta população de alto risco, apesar do tempo para identificação dos anticorpos se apresentar como um desafio a ser otimizado.
Referências: Goss C. Can the interval between antibody identifications be increased for alloimmunized patients? Transfusion. 2016. Dinh A. Time interval between antibody investigations among patients who demonstrate serial red cell antibody formation. Transfusion. 2019.




